UM GRITO NO AR... SONHO OU REALIDADE???

Anoiteceu completamente, os crepúsculos, no horizonte, já haviam desaparecidos, dando passagem ao luar prateado, às nuvens que bailavam no céu e às estrelas que cintilavam, deslumbrantes. O silêncio predominava nos corredores sombrios do Hospital da Luz, localizado na Vila dos Milagres... De repente, gritos estridentes quebram aquele sepulcral silêncio: Socorro... Socorro! Sérgio Rodrigo, que dormia profundamente, acorda assustado pelos gritos que vinham do corredor. Ele, menino de dez anos de idade, está, então, internado com suspeita de Leucemia mieloide aguda (tipo de câncer do sangue e da medula óssea em que há excesso de globos brancos imaturos).

O garoto, naquela noite, estava sem acompanhante, pois que sua mãe precisara sair mais cedo para resolver questões de cunho pessoal. Serginho, como era conhecido carinhosamente pelas enfermeiras, começou a suar frio. A palidez de seu rosto se confundia com o branco da parede do quarto. Sentiu falta de ar, sintomas da maléfica doença. Confuso, não sabia se ficava parado, ou se corria à procura de ajuda. Menino bonito, de cabelos louros encaracolados e olhos de tom verde claro e brilhantes, que mais pareciam duas pedras de esmeraldas... Ele que já era magro, e agora acometido pela terrível doença, ainda mais franzino estava... Sentou-se na cama para não cair, pois que seus músculos estavam quase que paralisados pelo longo período que passara em uma só posição; mesmo assim resolveu se levantar e procurar a sala de enfermagem, que ficava no mesmo andar de seu quarto. Queria saber o motivo daquele grito estarrecedor, que o deixara assustado... Sentiu um calafrio de medo, quando olhou o longo corredor, preenchido apenas por sombras e penumbras... “Será que os gritos são de um fantasma?”, pensou ele... Já ia voltar para o quarto, quando ouviu novamente um grito no ar: Por favor, socorro! Apavorado, o garoto parou... suas pernas tremiam, dificultando ainda mais a sua, sofrida, locomoção. Então sentiu um toque em seu ombro, de uma mão gélida, que causou arrepio até em sua alma, seguido de uma voz aguda e sofrida que dizia-lhe:

- Você pode me ajudar? Meu nome é Clara, estou gritando há duas horas e ninguém aparece.

Serginho olhou fixamente nos olhos azuis da menina, que ainda era mais pálida que ele, e respondeu-lhe:

- Clara, como posso ajudá-la? Estou aqui precisando de ajuda... morrendo de medo. Que susto você me deu!

A menina continuou:

- Saiba que a Morte veio, hoje, me visitar, e me pediu para doar minha vida à primeira pessoa que encontrasse. Mesmo não entendendo o porquê de precisar doar minha vida a alguém, quero doá-la a você.

Ao ouvir aquilo... o garoto desmaiou no corredor frio daquele Hospital. Quando acordou estava em no quarto, como se nada houvesse acontecido. Havia amanhecido, a troca de turno já tinha acontecido, e as visitas dos médicos recomeçaram. Sua mãe, portadora de grande Fé, entrou no quarto radiante de alegria, pois que soubera da súbita melhora do garoto. Ele jamais descobriu se foi sonho ou realidade, o encontro daquela noite. Procurou saber onde estava Clara, mas ninguém a conhecia e nem sabia informar.

Serginho realizou novos exames e, milagrosamente, o câncer continuava a regredir, até que, em poucos meses, estava totalmente curado.

Hoje, Sérgio Rodrigo é um médico renomado, o melhor Oncologista do Hospital da Luz... passa a maior parte do tempo atendendo crianças, trabalhando naquilo que mais gosta de fazer: salvar vidas. Ele jamais se esqueceu do grito no ar... e do rosto meigo da menina Clara.

Sonho ou Realidade? Acredite quem tem Fé...

Elisabete Leite – 23/02/2018

Elisabete Leite
Enviado por Elisabete Leite em 31/03/2018
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