Um Pedido de Socorro

Era uma manhã fria, o céu estava nublado e embora ameaçasse chover, resolvi fazer a mudança para o meu novo apartamento. Precisava dar seguimento a história do meu novo livro e me sentiria muito mais inspirada tendo à minha volta a tranquilidade e o ar bucólico existente no novo bairro.

O apartamento que comprei era muito aconchegante, o visual muito bonito pois havia muito verde cercando o prédio. Fiquei muito satisfeita com a aquisição do imóvel.

No dia seguinte mais descansada, resolvi fazer um tour pelo bairro e descobri uma trilha que levava a um parque. Encontrei pessoas caminhando, se exercitando, podia-se escutar o canto dos pássaros enquanto ficava admirada com a beleza ao meu redor.

Avistei uma casa estilo antigo, bem conservada, e reparei que no andar de cima, havia uma janela que estava fechada, sendo que as outras estavam todas abertas com uma cortina levemente transparente, o que impedia visualizar com maior nitidez quem se aproximasse da janela.

Eu não entendi porque, mas fiquei intrigada com o ocorrido. Resolvi voltar pra casa e retomar a história do meu livro. Em vez de me sentir inspirada com tudo que estava vendo à minha volta, eu não conseguia mais esquecer aquela casa.

Passaram- se dias e eu sempre que fazia as minhas caminhadas no parque, parava em frente aquela casa, como se quisesse encontrar alguma coisa. A minha imaginação é muito fértil e fico buscando sempre algo que as outras pessoas não tenham percebido ou simplesmente o comum não cause em mim nenhum impacto ou atração. Gosto de ir fundo nas coisas, extrair das pessoas o seu ponto vulnerável, pois acho que nele é que se encontra a verdadeira essência das pessoas, o seu lado mais bonito.

Fui me exercitar no parque logo pela manhã. E quando estava passando em frente, vi alguém abrindo aquela janela que sempre estava fechada. Fiquei paralisada! Havia uma cortina também naquela janela, mas pude perceber que era a silhueta de uma mulher. A luz do sol me permitia ver com maior clareza as suas formas. Fiquei tão surpresa que não conseguia andar direito, fiquei pensando porque depois de alguns dias, observando aquela janela sempre fechada, ela se abriu justamente quando eu parei em frente a ela?

Sentei-me no banco mais próximo e a minha imaginação me levava para algo mais tenebroso. E se ela estivesse pedindo socorro? Seria ela uma prisioneira do seu marido? Será que sofria algum tipo de agressão? Resolvi espantar todos estes pensamentos ruins e voltar pra casa.

À noite nem consegui dormir direito pensando naquela silhueta que vi na janela. Mas uma coisa é certa, se eu não descobrisse nada a respeito daquela casa, pelo menos daria uma ótima história.

Na manhã seguinte não fui caminhar, estava com alguns trabalhos pendentes por causa do meu livro, eu também corrigia textos enviados por estudantes universitários, cujo tempo era escasso pois trabalhavam durante o dia.

À tarde não consegui parar de pensar naquela casa e fui caminhar. O tempo estava agradável,o vento amenizava o calor. Estava bem relaxada, queria apenas observar as pessoas, algumas eu as cumprimentava pois nos víamos com bastante frequência. Eu não queria me preocupar com nada. De repente levei um susto! Olhei para a janela que havia aguçado a minha curiosidade e vi uma mulher me observando! Ela me olhava fixamente como se quisesse me dizer alguma coisa! Ah! Já sei! A minha imaginação fértil estava dando sinais! Mas por que ela não parava de me olhar? E eu não consegui dar um passo, fiquei ali sem saber o que fazer, quando alguém a puxou e fechou a janela! Então eu estava certa! Algo estava acontecendo com aquela mulher e talvez ela precisasse de ajuda! Tentei me acalmar e voltar pra casa. Mas no caminho falei com ela mentalmente: "Eu vou te ajudar!"

No dia seguinte fui obter informações sobre aquela casa e seus ocupantes, mas ninguém sabia dizer ao certo o que acontecia ali. Fui até a delegacia, mas o delegado não quis se envolver nos problemas pessoais daquela família,e não me ajudou muito. O que consegui saber, era que aquela casa pertencia a um Coronel reformado do Exército.

Eu não podia deixar de ajudar aquela mulher, porque talvez eu fosse a sua única esperança.

Fui novamente falar com o delegado, que desta vez me ouviu com mais atenção. Contei a ele em detalhes o que eu vi naquele dia. Ele se dispôs a visitar a família no dia seguinte para dar início a uma investigação.

Na manhã seguinte foi visitá-los e a empregada o recebeu de maneira fria e foi logo dizendo:"O Coronel está descansando!" Mas ele resolveu insistir e pediu pra conversar com alguém da família. Ela um pouco receosa convidou-o para entrar. Surgiu uma senhora com roupas que cobriam todo o corpo, que o olhou como se quisesse intimidá-lo. Antes que pronunciasse suas primeiras palavras as quais com certeza teriam o sabor de um veneno mortal, ele ouviu alguns gemidos. Ele sabia que não poderia revirar a casa sem um mandado de segurança,deu uma desculpa qualquer, se retirou e providenciou que um policial vigiasse a casa até que o mesmo fosse expedido.

Depois finalmente com o mandado em suas mãos, entrou na casa com a ajuda dos policiais e encontrou uma mulher sentada numa cadeira de balanço, com feições bonitas, mas muito magra e com um olhar sofrido. Sua irmã mais velha casada com o Coronel, a encontrou na cama com o seu marido numa noite de amor. Ameaçou acabar com a reputação do Coronel. Calado permaneceu, permitindo que sua esposa mantivesse sua irmã aprisionada naquela casa. Ele infeliz, ficou doente e não tinha mais forças para reverter esta situação.

Quando os policiais a levaram para a ambulância, ela olhou para mim, e esboçou um leve sorriso, como se quisesse me agradecer por ter salvado a sua vida.

Fiquei muito satisfeita por ter ajudado alguém que não tinha mais nenhuma esperança de voltar a viver com dignidade. O rumo da história do meu livro mudou, afinal, não poderia deixar de registrar este acontecimento tão importante na vida daquela mulher e na minha vida!

Katia Naegelle
Enviado por Katia Naegelle em 25/04/2018
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