O Diário de Ana Clara

O relato a seguir foi tirado de alguns fragmentos de um diário de uma jovem estudante e sua identidade foi mantida em segredo para garantir a sua segurança e integridade.

DIÁRIO DE RELATO DE DIAS ESPECIAIS:

SAPÉ - PB

DIA 22 DE FEVEREIRO DE 1988

1º DIA DE AULA

Meu nome é Ana Clara e vou falar do que aconteceu no primeiro dia de aula na escola da cidade que acabei de me mudar: senti aquele friozinho na barriga, aquele friozinho bem gostoso que todos nós sentimos no primeiro dia de aula – o dia que conheci a escola e fiz novas amizades.

Fiquei muito feliz de vir estudar aqui nessa escola. Uma escola grande com muitas salas e bem espaçosa e com um belo jardim que logo na sua entrada tem um caramanchão de alvenaria coberto por uma densa trepadeira que tive a impressão de que forma um pórtico de entrada para um mundo encantado.

Meus olhos contemplaram o jardim, admirando seus canteiros de plantas e flores e o encanto de borboletas sugando o néctar dessas flores. De repente, vi uma jovem tocando as flores, resolvi falar com ela e adentrei o jardim...

Olá! Você estuda aqui? – Perguntei de longe a jovem garota.

Mas quando entrei, não a vi mais aquela garota.

NOSSA! Que estranho! como ela saiu sem eu ter a visto? – perguntei, falando comigo mesma.

Naquela noite, fui dormir pensando naquele jardim e naquela garota do jardim. Assim, os dias, meses se passaram sem vê-la, até que um dia...

DIÁRIO DE RELATO DE DIAS ESPECIAIS:

SAPÉ - PB

DIA 06 DE SETEMBRO DE 1988

DIA DE ANIVERSÁRIO

Hoje é um dia muito especial. Como eu adoro ler e escrever, meus pais sempre me dão livros e este que ganhei hoje, é muito especial – O Diário de Anne Frank que conta a estória de uma garota que lutava para sobreviver na época da guerra.

E nessa tarde, estava eu na escola, sentada debaixo do caramanchão, lendo O Diário de Anne Frank e de repente, chega a garota do jardim...

Oi! Tudo bem? - Perguntei a jovem a garota.

Ela era uma bela jovem de longos cabelos pretos e afilada em sua face, parecia ter a minha idade. Não era muito de falar, mas adorava sorrir. Eu a perguntei que série ela fazia e simplesmente ignorou a minha pergunta, fazendo uma outra pergunta...

Como você se chama? – Perguntou a garota do jardim.

Eu me chamo Ana Clara. – Respondi entusiasmada.

E você como se chama? – perguntei sorridente.

Eu me chamo Maria Rita. – respondeu serenamente.

Nesse exato momento, ela se levantou e falou:

Eu preciso ir. – Exclamou a garota do Jardim.

Simplesmente foi em direção ao jardim e não apareceu mais durante o resto da tarde.

DIÁRIO DE RELATO DE DIAS ESPECIAIS:

SAPÉ - PB

DIA 22 DE DEZEMBRO DE 1988

ÚLTIMO DIA DE AULA

Neste dia aconteceu novamente, ele apareceu de repente, enquanto eu estava sentada debaixo do caramanchão, esperando o resultado das médias finais...

Olá, Ana Clara! – exclamou Maria Rita.

E o livro, aquele que você estava lendo, você gostou? – Perguntou Maria Rita bastante interessada.

Gostei sim, mas já terminei de ler faz alguns meses. – Respondi meio sorridente.

É estória de sofrimento, não é mesmo, Ana Clara? Perguntou Maria Rita expressando tristeza.

É sim. A Anne, ela sofreu muito. – Respondi, olhando para as plantas do jardim.

Sabe, Ana Clara, o sofrimento, ele dói muito no corpo, mas no final, purifica a sua alma. – Afirmou Maria Rita olhando para um canteiro de flores.

Nesse exato momento, a minha amiga de classe, a Júlia, veio me chamar para vermos o resultado final das médias.

Ana Clara, já saiu o resultado, vamos ver! – gritou Júlia de longe.

Já vou, Júlia. – Respondi, Olhando para Júlia.

Quando olhei de volta para Maria Rita, ela já tinha saído. Imaginei: deve ser da índole dela sair de repente durante as conversas e deve ser natural, pois cada amigo que temos tem suas manias.

Assim, terminei o dia: feliz por ter sido aprovada por médias e curiosa por saber mais sobre a minha nova amiga.

DIÁRIO DE RELATO DE DIAS ESPECIAIS:

SAPÉ - PB

DIA 23 DE FEVEREIRO DE 1989

VOLTA ÀS AULAS

Como é gostoso voltar às aulas, principalmente se for férias de longa viagem. Acabo de retornar da cidade que eu morava antes. Apesar de ter me divertido bastante, sempre pensei nos amigos que fiz aqui ao longo do ano e na minha nova amiga misteriosa – a garota do jardim. Por que será que, às vezes, temos um amigo meio misterioso?

Assisti as primeiras aulas, revi minhas colegas e a minha amiga Júlia, conversamos, colocamos os assuntos em dia. Durante o intervalo no refeitório, conversando novamente com minha amiga Júlia, fiz uma pergunta, sabe, aquele tipo de pergunta que quebra completamente o clima da conversa.

Júlia, você tem visto Maria Rita? – Perguntei com expressão de curiosa.

Que Maria Rita, Clara? Do que você está falando? – Perguntou Júlia franzindo o cenho.

Sabe, Júlia. Aquela garota que eu sempre conversava com ela no jardim debaixo do caramanchão. - Respondi assustada.

Você está ficando louca, Clara? Você nunca conversava com ninguém lá. Só via você sentada, lendo os seus livros! – Afirmou Júlia completamente eufórica.

Não pode ser! Ela conversava comigo, a garota do jardim. O nome dela é Maria Rita. – Respondi complemente assustada.

Que Maria Rita, Clara? Não conhecemos nenhuma Maria Rita. – Retrucou Júlia em tom exaltado.

Eu a conheci, ela conversava comigo, Júlia. – Afirmei com os olhos em lágrimas.

Calma Clara! Vamos descobrir quem é essa Maria Rita, vamos procurar essa Maria Rita. – Sugeriu Júlia segurando as minhas mãos.

Nesse exato momento, nos levantamos aflitas, fomos em cada corredor, olhando em cada porta de sala. Em cada rosto que eu olhava parecia ser em vão, pois nenhum rosto se quer, nem de longe, se assemelhava ao semblante dela.

Nesse instante, Júlia olha para mim e diz:

Só tem um jeito da agente descobrir, Ana Clara. É irmos na secretaria. – Afirmou Júlia com o olhar de preocupada.

Ao chegarmos na secretaria, nos deparamos com a diretora Dona Alba e contamos a situação para ela, logo, ela solicitou às funcionárias que localizassem a tal aluna Maria Rita e nos foi dito pelas funcionárias que só havia uma Maria Rita na escola, ela fazia a 5º série e tinha 10 anos.

Não pode ser! Não é essa a Maria Rita. A outra, tem a minha idade e pode também está na 8º série. – Afirmei aflita.

Chegou a noite, fiquei bastante pensativa, escrevendo meu diário – como uma pessoa pode estudar numa escola sem ter feito nenhuma matrícula, nenhum registro? Muito estranho, muito estranho...

;

DIÁRIO DE RELATO DE DIAS ESPECIAIS:

SAPÉ - PB

DIA 1º DE MAIO DE 1989

MARIA RITA

Meu nome é Ana Clara, tenho 15 anos. Meu sonho é ser escritora e fazer um livro como o de Anne Frank, para isso, tenho muitas coisas para aprender e hoje, aprendi que a vida tem seus mistérios - nada na vida acontece por acaso, tudo tem uma ligação...

Minha amiga Júlia me convidou para almoçar na sua casa nesse dia de feriado, pois é aniversário de sua mãe, Dona Marta. Após o almoçou, estávamos vendo algumas fotos do álbum da família de Júlia, entre elas, haviam algumas da sua irmã mais velha e foi nesse momento que algo muito estranho aconteceu: lá estava na foto da turma da irmã de Julia, uma foto de formatura da turma de 1984 – vi a garota do jardim, exatamente e perfeitamente do jeito que a via...

É essa, é essa a garota, Júlia! – Gritei completamente eufórica.

Não pode ser, Clara, não poder ser! – Exclamou Júlia gritando com os olhos em lágrimas.

Essa é Ritinha, amiga da minha irmã. Ela faleceu, clara. Ela faleceu depois que terminaram a 8ª série! – Exclamou Júlia com as mãos na boca e os olhos repleto em lágrimas....