A MISTERIOSA VILA 6 - RETORNO A BALTIMORE

Uma tempestade chamada desafio agora me confronta preciso suplanta-la. Deixei as ilhas Faroé, determinado a encontrar aquela que abriu os ferrolhos do meu coração. Sua lembrança abriu um pergaminho na minha memória, não poderia simplesmente fechá-lo sem conhecer a mensagem ali gravada. Ansiava por vê-la, sentir seu perfume, ouvir sua voz, e principalmente olhar nos seus lindos olhos verdes.

Rumores do meu subconsciente acenderam a luz da minha esperança, e me disseram que ela ainda estaria lá a minha espera.

Quando vi as fragatas e gaivotas voando sobre o barco, sabia que estava próximo a Baltimore. O dia amanhecia quando atraquei no pequenino porto ao norte da Vila, ali seria meu destino final, fora ali que tudo começou.

O mesmo cheiro do sargaço, as gaivotas grasnando empoleiradas balançando sobre os mastros dos barcos, o ranger das tabuas roçando nos pilares encrustados de cracas, e o balanço suave das ondas sobre o cais de madeira, me reavivaram as lembranças, havia deixado alguém que jamais esqueceria. E essa inquietação infernal me dominava, eu queria desvendar aquele mistério.

Depois daquele dia o meu horizonte escureceu, um redemoinho de acontecimentos me cercou e me perseguiu por todos estes tempos.

Perguntei a alguns marinheiros se conheciam alguém que tivesse trabalhado com Asgard. Um deles me disse que fosse procurar um velho morador do manguezal, era um pescador que lutou na guerra.

Caminhei algumas centenas de metros sobre a faixa de areia escura e grossa, entre o mar e a densa vegetação. Lá adiante havia uma choupana feita de madeira, construída sobre uma laje de pedra. A porta estava aberta, o homem portava um bigode alvo e espesso, sentado ao canto da janela, me parecia meio sonolento.

- Olá bom dia, sou Aros amigo de Asgard, o senhor o conhece?

Ele se deteve por alguns segundos olhando para o piso de tabuas, fez um sinal com a mão e apontou um banco feito do tronco de coqueiro a sua frente em sinal que eu deveria sentar. Tossiu, pigarreou, virou a vista para fora e começou a falar.

O que ele narrou foi estarrecedor.

- Quando conheci o velho Asgard ele ainda era um bom homem, mas aos poucos foi se transformando em uma alimária.

Curioso pergunto.

Como assim?

- Lutamos juntos naquela maldita guerra, éramos irmãos de trincheira, as batalhas eram violentas e sangrentas, às vezes passávamos dias dentro de buracos frios, enlameados sujos e fedorentos, o cheiro de sangue e carne podre enchiam o ar e os nossos pulmões. Uma pausa.

- Nossas armas estavam emperradas e inúteis, então apelamos para os punhais. - Estripávamos o inimigo o deixávamos sangrar até a morte, mas isso não era tudo!

- Asgard ao longo do tempo foi mudando, passou a encarar a matança como um jogo, ele não tinha a menor piedade, seu punhal matou mais do que a própria morte, ficou temido até pelos amigos. - Por vezes, seu pai o chamava atenção, mas ele já havia selado um trato com o demônio, e o demônio tinha forma e força.

- Mas, o pior não era matar cruelmente o inimigo, o comandante instituiu uma pratica tenebrosa entre a tropa. - Após as batalhas os campos ficavam coalhados de cadáveres, assim que escurecia um grupo de homens saia e recortava partes dos seus corpos, para serem levados a até a Vila, e na taverna entre tragos de Rum, serviam como churrasco.

Então ele me revela algo inimaginável.

- Em uma dessas sangrentas contendas, seu pai foi morto e deixado no campo de batalha. Então o mais sanguinário entre os sanguinários, braço direito do comandante, sob o manto da noite, desossou e serviu como churrasco seu melhor companheiro.

- A partir desse dia sem data certa, repete-se uma maldição tétrica e aterrorizante, em meio a tempestade de areia, raios, trovões e gritos de pavor, morre um morador da Villa. A pouco mais de um ano morrera a filha do dono de taverna, diz ele. Meu sangue gelou, senti uma angústia desesperadora.