Corpos celestes...

Deixei de pudores e me comprei o telescópio. Sabia perfeitamente que o céu de Varsóvia pouco encorajava observações astronômicas. Era de ordinário encoberto, tão distante do nosso lábaro estrelado...Verdade é que o Copérnico fizera importantes descobertas, mas era um outro tempo, de menos poluição e de corações ao alto, aquele em que vivera...

Minha vantagem, agora, era que eu vivia num vigésimo andar de um dos poucos arranha-céus que havia então na capital polaca do início dos anos oitenta, só perdendo em altura para o imponente Palácio da Cultura, copiosamente soviético em estilo e herança, e o moderno, já bem mais leve, Hotel Forum.

E da janela de minha sala, ainda a olho-nu, e perscrutador, eu podia ver milhas e milhas abaixo o serpentear do rio Vístula que corta a cidade. Lina é que não entendia aquele meu súbito gosto por corpos celestes...justamente por ver o telescópio, montado em seu tripé, mas de hábito, cabisbaixo...

A melhor cena, eu apenas antecipava, e ela se despontou numa manhã de primavera ensolarada...e aconteceu em poucos minutos: alegres e aparentemente galhofeiras as monjas de um mosteiro ribeirinho, situado não mais do que a duas milhas de minha janela, subiram ao terraço para um ansiado banho-de-sol...

Falar-lhes da pele louçã das polacas seria chover no molhado...é por demais óbvio. E sem se fazerem de rogadas, ou sem ao menos cogitarem de que estavam sendo observadas por algo mais que o olho divino, sentiram-se e sentaram-se à vontade nos bancos do terraço, e com algum pudor que há de ser particular à feminilidade, satisfazendo meus mais frementes apelos, expuseram-se...risonhas...punhos e tornozelos...

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 12/07/2018
Reeditado em 12/07/2018
Código do texto: T6388094
Classificação de conteúdo: seguro