A MISTERIOSA VILA 9 - REENCONTRO COM ISABELLE

Depois de andar por horas pela estreita estrada de terra, ouvi um barulho que parecia algo esmagando o barro do chão ressecado, por precaução me esgueirei entre as moitas. Mas, eram somente as rodas de madeira da carruagem que transportava trabalhadores das docas. Aproximei-me, fiz sinal, eles prontamente pararam, então pedi ao cocheiro que me levasse até a vila. Sentei-me ao lado de um senhor e puxei assunto. Conversamos durante todo o caminho e antes de descer próximo da sua casa, ele disse:

– Moço se você vai a Vila é porque tem assunto importante, mas não se demore por lá.

Já era quase noite quando chegamos a ruazinha que leva até o centro da Vila. O tempo pereceu não ter passado por ali, os cães deitados na areia, às casas com estreitas janelas abertas mostravam os lampiões de luz amarelada projetando silhuetas oscilantes nas paredes. Coincidentemente o sino da velha catedral, badalou seis horas, senti um arrepio. Um gesto com as mãos, o cocheiro parou os cavalos e todos desceram. Dei-lhe alguns trocados, agradeci e saí em direção a taverna.

O aperto no peito e o coração acelerado obrigavam minhas narinas ficarem dilatadas, precisava de muito ar, o sangue fluía em alta velocidade em minhas veias. Atravessei a rua com os sentidos à flor da pele. Quando avistei a taverna, apertei o passo até chegar à porta. Antes de entrar vacilei por alguns instantes, meu olhar rodou por todos os cantos, imediatamente avistei o grande candelabro pendurado no centro do salão. A taverna estava vazia, só haviam quatro ou cinco homens sentados nas mesas, bebendo. Olhei em volta, e me dirigi a um que bebia sozinho em pé no balcão:

– Boa noite amigo, o dono da taverna se encontra?

Ele olhou em minha direção e respondeu:

– Não, ele não está, mas a sobrevivente sim.

Senti meu sangue fervilhar. Retruquei:

- Sobrevivente? quem é a sobrevivente?

Ele responde:

– Eram duas irmãs gêmeas, a de olhos azuis foi assassinada.

Senti uma profunda tristeza, mas, ao mesmo tempo alívio, Isabelle tinha olhos verdes.

Em meio a nossa conversa, surge atrás do balcão de madeira, mais linda e mais atraente do que quando a vi pela primeira vez, mas sua expressão denotava tristeza e apreensão, e ao mesmo tempo um toque de felicidade. Nossas retinas sincronizaram, quando proferiu meu nome, sua voz soou como a mais linda melodia que já ouvi. Ali estava eu diante do amor da minha vida, um sentimento indescritível tomou conta do meu coração. Era a própria felicidade materializando-se, sim, aquela era a moça dos olhos verdes. Nossos corações podiam ser ouvidos em toda Vila. Todos os presentes ficaram entorpecidos, sem palavras e sem reação, apenas nos observavam. Pulei o velho balcão, a envolvi nos meus braços, e nos beijamos longa e apaixonadamente, acho que o paraíso nos reservou aquele momento, nos eternizamos.

Falei:

– Isabelle, pensei que tivesse morrido, mas nunca perdi a esperança.

Ela respondeu:

– Jamais o esqueci.

Com lágrimas nos olhos continuou:

- Naquela noite minha irmã foi levada por aquele demônio, agora ele se virou para mim.

– Não se preocupe, tudo isso vai passar, Asgard prometeu me ajudar.

– Sim. Ela respondeu.

- Precisamos sair daqui imediatamente, se a besta nos encontrar, matará você sem a menor piedade.

– Você esta pronta Isabelle?

– Sim, espero por este momento há muito tempo.

Então saímos correndo pela rua, acompanhados pelos latidos dos cães, e logo nos afastamos dos arredores da Vila. Atravessamos um campo aberto, quando chegamos do outro lado ficamos protegidos pela floresta e os morros e assim nossa caminhada se prolongou por toda a noite.

Exaustos, atingimos o oceano antes mesmo do amanhecer. Na areia da enseada havia uma pequena jangada, com dois remos, como se estivesse a nossa espera. “Acho que Asgard esta nos ajudando” pensei. Entramos na canoa e remamos na escuridão até atingirmos a pequena ilha afastada da costa. Minha experiência no mar me acolhe, mas, ainda temos muito pela frente, ainda somos presas entre nas garras do mal.