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          O POTE DE OURO
 
            O vento do mar soprava na madrugada fria daquele mês de junho. Abílio foi dormir tarde porque ficou assistindo a uma comédia na TV. Ignorou o chamado da mulher que insistiu por várias vezes para  que fosse dormir.
            Enfim, foi se deitar. Dona Maria sua esposa estava dormindo. Espreguiçou-se. Deitou-se e logo pegou no sono. Sonhou com a escola pública onde há anos trabalhava. Sempre dizia que amava aquele trabalho por estar em contato com pessoas diferentes.  Ali era a extensão do seu lar. A caridade era uma de suas marcas registradas. Sempre que via algum aluno com calçado rasgado ou descalço logo perguntava para o mesmo o que havia acontecido. Conforme a história da criança Abílio pegava o endereço e junto com sua fiel companheira iam até à residência desta para averiguar se a sua narrativa era procedente. Em caso positivo dirigiam-se para o supermercado ou outro lugar para comprar o que a família precisava. Assim era a vida desse educador no dia a dia.
            Lá pelas tantas acordou. Lembrou-se de um sonho. Disse que uma criança o chamava pelo nome. Abria a mão e lhe mostrava algo brilhante. Olhava para a janela onde refletia um pequeno raio da luz do luar. Sorriu.
             “Sou grato pela minha vida.” – Pensou.
            Dormiu de novo. Teve outro sonho. Desta vez era que quando saía da escola, ou seja, do seu ambiente de trabalho, uma pequena menina lhe aparecera. A princípio pensou que fosse aluna. Mas as roupas eram brancas resplandecentes. Com uma voz meiga e suave esta dizia:
            - Professor Abílio. Vai até à curva do rio. Lá existem três palmeiras. No pé da que está à direita olhando da margem.  Entendeu?
              - Si... sim... entendi...
            - Então. Bem no pé dessa palmeira você deve cavar...
            Nesse momento o professor acordou assustado. Pensou que fosse apenas um pesadelo.  Levantou, foi à cozinha e tomou um copo d’água. Voltou para a cama. A esposa dormia. Demorou um pouco e pegou no sono novamente. Tornou a sonhar com a criança.  A mesma menina vestida de branco. A personagem do sonho falou:
            - Professor, vai perder essa grande chance? É só hoje. Agora ou nunca...
            Abílio acordou novamente. Pensou o que seria aquilo. Meio acordado meio dormindo. Apareceu de novo aquela linda criatura. Desta feita levantou. Sem avisar ninguém pegou lanterna, cortadeira, picareta, machado e facão. Colocou tais apetrechos no carro.
            Ligou o veículo e foi para a beira do rio no lugar indicado pela criança. Com um pouco de medo foi chegando. Levou consigo as ferramentas. Avistou várias palmeiras. Três delas estavam juntas, uma do lado da outra. Chegou até lá. Virou as costas para o lado do rio. No pé da que estava à direita, desceu a picareta. Começou a cavar. Cavoucou aproximadamente meio metro. Deparou-se com algumas pedras. Parecia que as mesmas protegiam algo. As árvores formavam um ruído alto devido à ventania forte que começou. Os galhos quase quebravam bem em cima da sua cabeça. Corujas gritavam de todos os lados. Um lobo uivou pertinho atrás de uma árvore centenária. Na outra margem o urro de um leão. Quase que o homem desistiu. Naquele momento não valeria a pena desistir. Persistiu. Depois das pedras deparou com uma camada de carvão.  No meio havia um pote grande tipo de uma panela de barro.
            Com muito jeito e esforço, conseguiu retirar da terra. Estava pesada. Viu que a tampa era colada. Um tipo de um lacre. Da forma que retirou do chão, colocou-a no carro e voltou para a casa. Assim que desenterrou a “panela” do meio das coisas que a protegiam e do solo, a barulheira misteriosa cessou. Chegou à sua residência. Acordou dona Maria. Esta tomou um grande susto.
            Com uma pequena faca cortou em volta. Abriu a tampa. Em cima tinha uma camada de carvão já apodrecida. Logo abaixo havia algo parecia coberto de poeira. Sem beleza alguma. A mulher pegou um pano úmido e começou a limpar. Foi aparecendo uma cor amarela. De repente ficou brilhoso. Lindo mas lindo mesmo. Formato retangular. Outro de igual tamanho abaixo do primeiro. Repetiu o processo. Cada um que limpava deixava de lado. Eram duas barras de ouro. Mais algumas peças que a princípio pareciam latões, mas ao limpar tornaram-se douradas resplandecentes.
            No fundo do grande pote uma camada de pedras. Pareciam comuns. Ao limpá-los viram que algumas eram lindas.  Brancas e lilás. Três eram verde cor da mata.  Belíssimas esmeraldas. Outra de tamanho menor brilhava tanto que refletia com o brilho da luz. Suspeitaram ser um diamante. Depois foi comprovado que realmente era esta preciosidade rara.
             O ano letivo estava próximo a terminar. Abílio foi até ao Núcleo de Educação da sua região. Falou apenas para a esposa. Pediu transferência para outra cidade. Tudo o que se sabe que comprou uma fazenda para descanso dos finais de semanas. Pouco mais tarde para a mesma se mudou. Aposentou-se da sua antiga profissão de educador. Virou fazendeiro plantador de soja e criador de gado.
            Fazendeiro de sorte, professor Abílio tornou-se rico. Sua vida mudou da água para o vinho depois que obedeceu a uma visão em forma de sonho.
 
(Christiano Nunes)
           

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