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Sempre houve nele o mistério do incompleto, ela nunca gostou de coisas cheias, preferia preencher as lacunas, imaginar o outro pedaço da lua que estava escuro, e assim por diante. Então encontrar ele foi mais uma de suas aventuras, ao menos era o que pensava.

Sempre após solucionar os mistérios sentia um imenso vazio e depois partia para o próximo, nele achou infinitos mistérios, lacunas impossíveis de preencher, não seria um ciclo fechado.

Estava fazendo palavras cruzadas, no café da esquina de sua casa, aquele bem bonitinho, com muitas plantas e cheiro de grão moído na hora. Pediu um expresso, tomou sem açúcar mesmo, gostava da intensidade do sabor. Costumava observar algumas coisas depois de terminar as palavras, pois a caneca ainda estava cheia e quente, mas nunca se apegava aos detalhes das pessoas, apenas às situações, mas aquele homem tinha algo peculiar, que chamava sua atenção. Não era apenas o casaco em um dia quente, nem os sapatos super antiquados para a época em que viviam, ela nunca se importou com moda, ou mesmo o fato dele ter pedido uma bebida energética ao invés de café, mas havia algo ali, talvez em seus olhos, eram azuis ou castanhos? Castanhos, definitivamente, concluiu enquanto olhava fixamente para o homem, que correspondeu ao olhar, surpreso, ela virou-se rapidamente. Ele se levantou e foi embora, ela terminou seu café pensando no estranho que prendera sua atenção.

Quando voltou ao café no outro dia, não o viu, terminou suas palavras, tomou seu café, sem grandes observações ou acontecimentos. Foi só na semana seguinte que o viu novamente e desta vez notou que ele estava com alguns livros e fotos, parecia ansioso e preocupado. Ela pensou que talvez fossem fotos de esposa, mas não havia nenhuma aliança em seus dedos, novamente ele a notou, logo ela foi embora. Essa situação se seguiu por semanas, ela procurava cada detalhe, tentando ver os livros, as fotos, haviam dias em que ele fazia muitas ligações, mas ela não conseguia entender a conversa, porque era em alguma língua que ela ainda não aprendera. Em alguns dias ela nem se quer tomava seu café.

Em uma manhã, agitada para ela, o atendente lhe perguntou se estava investigando o Samuel, o homem para quem ela sempre olhava, tinha então um nome, o livro estava sendo aberto. Tomou um gole de café, como se fosse coragem, e foi então falar com ele, e o resto ela guardou para si e se um dia escreveu algo sobre, ou contou para alguém, só saberemos no próximo capítulo.

Luiza Bruun
Enviado por Luiza Bruun em 26/01/2019
Reeditado em 26/01/2019
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