O PERFIL MISTERIOSO DO RECANTO FINAL!!!

Após aquela noite desesperadora para muitos recantistas aliada ao Calvário das 72 horas aguardando o retorno do site, Eliseu enviou um email para todos os inscritos e os que perderam suas contas pedindo desculpas pelo transtorno, que já podiam acessar novamente a página, que finalmente excluíra de vez o hacker do Recanto e que ele já havia sido localizado e estava sendo procurado pela polícia.

Todos acessaram e as contas voltaram ao normal, assim como a página em si voltou a funcionar. A aba “OS 100 MAIS LIDOS DA SEMANA” retornou ao seu modo inicial e cada autor teve seus textos de volta. O site parecia intacto novamente, o mural não continha mais vídeo nenhum e os textos em seus tópicos e gêneros variados estavam todos lá prontos para serem publicados.

Porém quando os autores acessavam seus próprios textos, aparecia um pop-up com a seguinte informação:

CAVE:

ESCOLHA UM AUTOR DE A À Z PARA LER ANTES DE LER SEU PRÓPRIO TEXTO!

___________________________________ [cavar no recanto]

Nenhum autor entendeu aquilo. Ninguém conseguiu clicar no próprio texto sem antes ter que escolher um texto ou autor aleatório.

O pior é que não bastava ter apenas lido um texto de autor desconhecido. Não se podia sair da página antes que escrevesse um comentário. Quando se tentava sair, aparecia outro pop-up dizendo:

DEGUSTE E CRITIQUE:

DEIXE SUA OPINIÃO SINCERA SOBRE O TEXTO LIDO.

Se a pessoa que acessou o texto se recussasse, outro pop-up aparecia:

JÁ QUE QUER TANTO SAIR...

VOCÊ RECOMENDARIA ESSE TEXTO PARA OUTRAS PESSOAS LEREM?

[SIM]

[NÃO]

[COMENTAR]

Esses pop-ups tornaram-se bloqueadores no site, já que ninguém conseguia acessar o próprio texto sem atravessar toda essa burocracia.

Quando alguém concluísse tudo aquilo, o texto do autor aparecia imediatamente para ser lido, editado ou excluído.

Caso alguém quisesse postar um texto novo, antes de clicar em [PUBLICAR] era necessário passar pelo mesmo procedimento.

Estranhamente o site também reconhecia quando era texto repetido de um mesmo autor já acessado. Então sempre tinha que ser ou outro texto ou outra conta.

A cada texto publicado, um texto aleatório tinha que ser lido através do botão [CAVE].

0h00. A caixa de mensagens de cada recantista encheu de alertas dos administradores.

Quando abriram os emails, que eram muitos, as mensagens pediam que tomassem cuidado com um hacker literário chamado ELISEU, ou que se apresentava como SEU ÚLTIMO TEXTO, que se tratava de um criminoso perigoso procurado pela Interpool e pelo FBI. Informavam que não haviam feito nada no site e que não possuíam nenhum funcionário por nome Eliseu e sequer tinham uma Central de Monitoramento e Privacidade do Recanto das Letras. Tudo aquilo não passava de um hacker que havia invadido primeiramente o sistema administrativo, bloqueado as senhas dos técnicos de maneira que nem o mais experiente funcionário de T.I conseguira acessar. Eles foram impedidos de fazer qualquer alteração no site sob ameaça de terem suas famílias colocadas em risco.

A identidade falsa usada era de seu próprio pai que falecera no final de 2019 e, os motivos daquela invasão no site, dizia o criminoso, era revolta por ter perdido aquele que tanto o inspirara a escrever.

Chocados com aquelas mensagens, perguntaram se o site haveria de normalizar ao seu estado normal.

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Agosto de 2020. O site Recanto das Letras funcionava normalmente. Cerca de sete milhões de contas no total. Todos os tipos de textos eram publicados.

0h00. Cada recantista recebeu um email que dizia na sua descrição: OBRIGADO!

“Obrigado à cada um de vocês, autores anônimos, que mesmo sendo desconhecidos, mostraram para mim durante esses sete meses de invasão ao site o valor da escrita. Aquele perfil EU AMO POEMAS possuía minha foto, endereço e todas as minhas verdadeiras características. Eu já o excluí.

Preciso dizer primeiro como fiz o que fiz:

Eu já trabalhei no Recanto. Então sabia muita coisa de lá como senhas, logins, etc. Mas eu também tinha um perfil lá. Era aquele EU AMO POEMAS. Eu apenas o refiz.

Inicialmente tive que invadir o sistema do recanto e esse foi o mais difícil, porque eles possuem um sistema de proteção incrível. Vocês não imaginam como os funcionários daqui trabalham para manter suas contas protegidas de gente como eu. Mas fui mais experiente e usei umas técnicas. Tudo isso sozinho, sim senhor. Nunca duvide de uma pessoa sozinha com literatura o suficiente na cabeça.

Depois, bloqueei todos os emails-resposta deles para vocês e só pude destrava-los quando eu já estava fora do país. O resto foi fácil.

O nome SEU ÚLTIMO TEXTO foi inspirado nas palavras do meu pai, antes de falecer. Escritor premiado de saraus e eventos, mas que foi esquecido com o tempo, ele me incentivou a descobrir o verdadeiro valor da escrita, seja de Dostoiévski ou do João da Silva. Todos possuem alma literária dentro de si. E meu pai ensinou isso.

Aliás... seu último texto foi um poema curto... ele escreveu pra mim:.

“DE ACRÓSTICO À TROVA, DA LETRA A À Z

QUE O FIM DO TEXTO... NUNCA SEJA O FIM DA INSPIRAÇÃO PRA VOCÊ.”

Espero que tenham entendido a lição. Calma, não abri conta no nome de ninguém. Aquele livro em cima daquela mesa que vocês viram continham todos os textos que roubei por um tempo do site e mais alguns outros gêneros que eu não quis excluir de vez. Vocês possuem um leitor... e o melhor leitor de vocês... são vocês mesmos.

Att: Eliseu

Pseudônimo: SEU ÚLTIMO TEXTO”

FIM

Leandro Severo da Silva
Enviado por Leandro Severo da Silva em 25/03/2019
Código do texto: T6607140
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