O menino brincalhão

Era tarde de sábado. Um dia muito quente, pois iniciava-se uma semana de feriado estudantil em uma cidade do Estado de Minas Gerais.

João Fagundes é uma criança muito interativa. Gosta de brincar um pouco de tudo. Não se contenta com o que está por vir. Corre por todos os lados; joga bola com os companheiros e caso não encontre alguém, ele mesmo joga sozinho. Brinca de pique e corre em todas as direções. Na brincadeira de bolinha de gude, não tem para outro. Sempre ganha de todos no famoso jogo do rapar. Não gosta de andar de bicicleta, porque acha que ela anda pouco e ele gosta de agitação.

Certo dia, já brincando de quase tudo, ele olhou para cima e viu a primeira estrela brilhando no céu. Muitos a chamam de Estrela Dalva, mas, na realidade, é o planeta Vênus. Olhou por alguns pontos diferentes, mas o olhar se voltava para aquela linda e elegante estrela. O brilho dela o fascinava e disse consigo mesmo:

- Que linda e bela estrela. Você deve estar a uma grande distância.

- Será que você tem algum menino que goste de brincar comigo, que corra como eu corro, que seja bom no jogo de bolinhas de gudes, que faça casinha de bambu e que goste de brincar comigo, pois a maioria das crianças de minha rua não gosta de brincar. Elas pensam que sou diferente delas.

- Caso você tenha, pelo menos, duas crianças para virem brincar comigo, eu vou agradecer muito a Papai do Céu.

João ficou por um bom tempo contemplando a estrela. Os olhos brilhavam a todo momento. O brilho dela era fascinante para ele, porque nunca tinha parado um pouco no tempo para apreciar a luz e a beleza daquele astro.

Os dias iam passando. João sempre brincava muito e a cada dia estava ele mais agitado. Os colegas da rua procuravam desculpas para não brincarem, pois sabiam de sua esperteza.

Certo dia, com o sol custando para se pôr, João saiu de casa e foi logo para a rua. Pegou a bola e chamou por alguns coleguinhas vizinhos, mas eles se recusaram nas brincadeiras. Um disse que estava com dor de barriga; o outro disse que ia para a missa; o terceiro murmurou que estava com dores de dente e precisaria repousar.

Bastante triste, João olhou para cima e viu o brilho da estrela. Lembrou de que no mês passado havia feito um pedido para Papai do Céu para trazer algumas crianças para brincarem consigo. Nos olhos dele saíram lágrimas e ele chorou. Não tinha ninguém para brincar a não ser sua própria sombra. Pensou em voz alta:

- Ninguém gosta de brincar comigo.

- Hoje eu não preciso de brincar com os vizinhos. Agora, vou brincar com os amigos daquela estrela tão bonita que vejo. Eles estão ali, bem próximos de mim.

Não se sabe como, João brincou sozinho novamente, mas a todo o momento falava em voz alta e forte como se estivesse brincando com mais pessoas. Falava alguns nomes estranhos. Corria muito, pulava por todos os cantos. A bola era chutada por João e voltava novamente para ele sem tocar em nada. Era rebatida do mesmo jeito que João a tocava. As bolinhas de gude se movimentavam em perfeito sincronismo como se estivessem sendo operadas por outra pessoa. Ouvia-se barulhos de sons de pessoas correndo, porém não se via nada.

No final da noite, já cansado, ele se despediu em voz alta, assim dizendo:

- Obrigado, meus coleguinhas daquela linda estrela do pôr-do-sol.

- Hoje foi muito legal. Brincamos muito e cansei um bocado. Há muito tempo, eu não brincava tanto.

- Espero poder vê-los o mais breve possível, porque vocês são tão fortes, são tão inteligentes e com muita sabedoria.

O tempo foi passando e João foi melhorando de seu agitamento. Nas tardes de sol, ele não mais brincava. Somente de seis a oito meses do ano, ele brincava sozinho, da mesma forma que brincava antes, sempre conversando com alguém e este alguém ou mais seres, brincavam e nunca apareciam. Os seres conversavam com João e ele mesmo conversava com os seres.

JOSÉ CARLOS DE BOM SUCESSO
Enviado por JOSÉ CARLOS DE BOM SUCESSO em 26/10/2019
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