Magnetismo animal

A princípio, o corpo do urso estremeceu, como se estivesse sentindo um incômodo. Em seguida, começou a se virar dentro da jaula. Finalmente, ergueu a cabeça e, de olhos bem abertos, encarou o doutor Doyle, que permanecia imóvel em sua cadeira, aparentemente alheio ao perigo que corria. O público, particularmente os cientistas convidados na primeira fila, pareciam estupefatos com o espetáculo que se desenrolava perante seus olhos, e sua incredulidade só aumentou com as cenas posteriores.

- Isso não pode estar acontecendo - murmurou atônito o doutor Jacquet. - A dose de sedativo aplicada neste animal deveria fazê-lo dormir por horas!

- Como então acredita agora no mesmerismo? - Questionou um físico da Universidade de Leipzig, sentado ao seu lado.

- Deve haver alguma outra explicação - arguiu o veterinário, não se dando por vencido.

Indiferente aos comentários dos homens em traje de gala aos seus pés, sobre o palco o urso-pardo pôs-se de pé, numa atitude que, na natureza, poderia ser interpretada como uma atitude exploratória - ou de ameaça. O receio dos presentes logo se dissipou quando o animal dobrou o corpo, pata direita no peito, e fez o que parecia ser uma mesura. Em seguida, aprumou o corpo novamente e começou a bater uma pata na outra, num gesto que inequivocamente só poderia ser interpretado como um gesto:

- Palmas! O urso está pedindo palmas! - Gritou alguém na plateia.

O auditório veio abaixo com aplausos entusiásticos. Fosse aquela uma demonstração da eficácia dos princípios postulados por von Baumgarten ou não, o certo é que havia desconcertado um eminente fisiologista como o doutor Jacquet e intrigado o notório adversário de Doyle, Nathan Chambers.

- O que o urso fará em seguida? Um número de dança sobre um monociclo? - Resmungou.

O animal fez uma nova vênia, como que agradecendo a aclamação, e em seguida, esgueirou-se para dentro da jaula, cuja porta encostou, cuidadosamente. Enrodilhou-se com o focinho entre as patas, e pouco depois parecia mergulhado novamente em sono profundo.

A plateia ficou em silêncio até que, decorridos mais alguns minutos, o doutor Doyle voltou a dar sinais de vida em sua cadeira. Ergueu-se, finalmente, e apalpou pernas e braços como que a verificar que tudo estava em seu lugar. Na sequência, apanhou a chave da jaula que guardara no bolso do colete da casaca e trancou-a novamente. Só então, voltou-se para a audiência e indagou:

- Alguém gostaria de ficar nesta cadeira com a jaula aberta e o urso em seu estado normal?

Nenhum voluntário se manifestou.

[Continua]

- [23-12-2019]