O fantasma

Francisco era o filho mais velho de seu Mário, o primeiro de quatro irmãos; apesar de todo o esforço, não seguiu a profissão do pai, um carpinteiro, homem distinto, fora as ocasiões especiais, quase não se via por aquelas redondezas; sua mãe, dona Luzia, era uma típica, senhora do lar.

Francisco era um bom rapaz, um bom homem, por assim dizer, nunca matou e não se tinha notícias de que havia roubado de alguém.

O lar de francisco e dona luzia era uma " meia-água", a dificuldade os conduziu, e, ali, fixaram residência, uma boa instalação, de baixo custo, um aluguel barato, pequena, simples, mas aconchegante, a quarta casa, a penúltima do lote.

Eram ao todo cinco casas, a primeira, à frente, era a mais ampla e a mais espaçosa, bem vistosa, de bom padrão, a segunda casa foi construída , imediatamente, atrás da primeira, o acesso era feito por um corredor lateral, mais ao fundo, embora, não fossem visíveis, em razão do desnível do terreno, as demais casas.

Esse corredor mal iluminado era um terror, em testemunho sobre experiências desagradáveis, os desavisados, em choque, alegavam que sentiam, as vezes frio, outras vezes, arrepios, calafrios e, até tremedeiras, porém não havia o que explicasse qual as reais razões do fenômeno.

Assim, após a má fama, por aquele beco ou corredor só se viam os moradores ou os que, por necessidade, haveriam de passar por ali e, "morrendo de medo"; à noite era difícil ver alguém, a exceção era o misterioso seu Toinho.

No final desse corredor, após as duas casas da frente, à esquerda, em desnível de piso suavizado por quatro degraus é que via-se, livre, o espaço frontal da terceira e quarta casa; separada, destas, bem lá nos fundos, no canto do terreno, ao lado direito, avistava-se, a última casa da propriedade, alugada - sem nenhum preconceito, só para melhor descrevê-lo, e, eu serei aqui o mais preciso possível - alugada para o nanico, era assim que se referiam a ele, um negro, seu Antônio, conhecido como Toinho, um viúvo que, ali, vivia e, que , uma vez por outras, abrigava o filhos, homens já feitos, Vicente e Tião dos quais pouco se sabia.

Houve uma época saudosa, na qual, todas as casas estavam ocupadas, todos os vizinhos ao chegar e ao sair, ali, se encontravam, e, era difícil, à tardezinha, não encontrá-los proseando junto à entrada do beco que dava acesso às casas dos fundos, mas o tempo passou, os jovens cresceram, alguns se casaram e seguiram o seu destino. A propriedade, agora, mal administrada, e, já, em péssimas condições, exibia os resultados da inação dos jovens herdeiros, e, também, nos últimos momentos, dos antigos proprietários que já haviam falecido, restava como inquilino o morador da primeira casa, seu Manoel ; Francisco e dona Luzia que , agora, estava só, depois de separada de seu Mário; e nos fundos seu antonio, o homem nanico, o pai de Vicente e Tião, conhecido como toinho, o morador mais antigo, não se contava mais quantos anos ele tinha, todos do lugar se perguntavam sobre o início de sua estória ali ; alcoólatra, dormia parte dos dias, e, à noite caminhava, entrava e saia daquele beco à madrugada toda, era comum vê-lo parado na entrada, inerte, parecendo estar à espera de alguém, alguém que não viria, muitos assustaram-se com ele, às vezes caído, às vezes parado, em silêncio, às vezes andando, vagarosamente, às escuras, parecia dialogar com alguém.

Longo e assustador, era o beco da Luzia, como era conhecido, era uma entrada sem porta de guarda para a rua, onde, uma vez ou outra, alguém desavisado aumentava a sua fama, quando, dele, saía correndo, em desespero, impressionado pelo que sentia, avistava ou ouvia, era algo inexplicável, coisas do além.

Não houve quem percebesse que o problema agravou-se à época em que Francisco, o filho de Luzia, reunia, em casa, à noite, os interessados em consultas espirituais.

O fato, é que, desempregado, Francisco, valia-se de seus dons, e, assim, garantia "algum" para sobreviver.

Um dia, em uma daquelas sessões de descarrego, após os banhos de ervas e orações, Fronzino, um dos frequentadores imaginava-se livre de espíritos ou entidades sobrenaturais maléficas e, aliviado, sentia-se livre de energias deletérias; mentalmente, renovado, depois das intervenções de Francisco, parecia gozar das mais sadias e salutares energias.

No mesmo nível das casas localizadas à frente, porém na lateral esquerda do terreno, foi erguida a terceira e a quarta casa.

Quem saísse da quarta casa, a casa de francisco, haveria de descer quatro lances de escada para o piso livre e caminhar uns quatro metros, não mais, até os degraus para no plano superior, no qual estava o corredor, à direita que o conduziria à saída.

Assim, agradecido, ao fim da sessão, Fronzino despediu-se, pediu licença e saiu.

Distraído, feliz com os resultados de sua primeira consulta ao médium Francisco, o visitante fronzino, saiu, desceu as escadas e caminhou até o próximo lance de escadas que o conduziria ao corredor, subiu e ao virar à direita, já, no corredor avistou lá, enfim, a luz de rua que, pela distância, só no final lhe serviria de ajuda, no escuro, portanto, deu os seus primeiros passos rumo ao desconhecido, pois até, então, nada sabia da fama daquele, mal falado, corredor do medo.

Após, alguns passos, tropeçou, e o reflexo, rápido, elevou suas mãos, esperava reagir ao impacto de seu corpo contra o solo, contudo, não tocaria o chão; tocou o que não poderia ver, porém, mentalmente, visualizou o que seria o corpo de alguém, mas quem estaria, ali, caído ao chão?

Em pânico, levantou-se, imediatamente, a princípio, descrente em busca de explicações, mas, de relance, em rápido olhar parecia não haver mais, qualquer, dúvida, o corpo que parecia gelado incutiu-lhe a impressão de que um cadáver, alguém sem vida, estava ali, no chão.

A reação foi instantânea, Fronzino, em desespero, atônito, correu, como todos os outros, e, saiu desesperado em direção a luz da rua.

O esbarrão foi forte, numa corrida frenética, desequilibrada, louca, quase matou dona Luzia que, antes, mais, cedo, havia saído. Ao desculpar-se, e, após, acalmar-se, isso, depois dos cuidados de dona Luzia, informou a sobre o que havia ocorrido.

Como morada antiga, dona Luzia acompanhava os relatos e sabia que precisava acalmá-lo, afinal, não era a primeira e não seria a última vez que alguém viveria uma experiência daquela.

Ao tentar acalmar os ânimos do visitante, luzia o convenceu a retornar ao beco, desta vez, acompanhado por ela e pelo Francisco, seu filho, o médium, assim, após conter o pânico, a fim de apagar a má impressão, os três e mais o vizinho da casa frente, seu Manoel, seguiram, agora, de posse de uma lamparina, com a qual iluminaram o local da queda.

Impressionante, foi a reação de Fronzino que não sabia como explicar o que, de fato, havia lhe ocorrido, desculpou-se mais uma vez, e, já, descontraído, retornaram todos até a quarta casa, a casa de francisco.

Após um café fresquinho, feito por dona Luzia, seu Manoel questionou aos demais sobre a ausência de seu Toninho, e, sem respostas, todos dirigiram-se até a última casa, a casa de seu toinho, lá, a triste, cena de um homem morto no chão.

Falecera, seu toninho, o homem mais antigo. Pelas informações, posteriormente, apuradas e divulgadas o óbito havia ocorrido a alguns dias.

Jorge Santana
Enviado por Jorge Santana em 10/03/2020
Código do texto: T6884447
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