A mulher que nunca sorri

Sem sombra de dúvidas era um contraste da natureza que uma mulher tão linda como aquela andasse por onde quer que fosse sem nunca esboçar um sorriso. Uma mulher que tinha o andar tão leve e um corpo tão exuberante que parecia flutuar sobre o chão no qual estivesse passando. Não é difícil imaginar que, caso tivesse vivido na época de Homero, com certeza seria a inspiração para o grande poeta grego fazer de sua silhueta as características físicas de uma das lindas deusas do Olimpo. Quem sabe o jovem Páris não teria escolhido-a depois de fazer-lhe uma promessa qualquer após ter estado diante da maçã de ouro jogada por Éris para " a mais bela" e a guerra de Tróia nunca houvesse existido? A sua beleza era tanta que qualquer suposição acerca dos estragos que poderia fazer seu resplendor durante qualquer período da história era uma coisa normal de se pensar. Será que escondia algum tipo de segredo que poderia ser revelado através desse sorriso nunca visto por ninguém? Talvez sua boca fosse uma espécie de portal para um mundo inimaginável de prazeres onde meros mortais como nós nem ousariam ter a audácia de saber de fato como seria esse lugar; um lugar onde só alguns poucos escolhidos tiveram a sorte de desfrutar, homens que já poderiam ter morrido fazendo com que suas passagens sobre a Terra já tivessem valido a pena.

Mas era aquele sorriso a grande interrogação de sua alma. Mesmo quando era acometida por algum fato que deixasse seu espírito revigorado, -sim, era essa e expressão que gostava de usar quando sentia o prazer de sensações agradáveis, já que a palavra "felicidade", seu modo de ver, era uma palavra um tanto quanto inadequada para caracterizar situações como essas-; o máximo de mudança que ocorria em sua expressão facial era um pequeno alongamento da parte esquerda de seus lábios, fazendo com que essa leve mudança no seu rosto lembrasse um outro sorriso italiano muito conhecido por todos.

Me causou uma sensação muito estranha quando a vi pela primeira vez, uma sensação que ficará marcada para sempre na minha memória; minhas pernas começaram a tremer, meus pés e mãos a suar, meu coração a palpitar de um modo que pensei que a qualquer momento poderia ter um ataque cardíaco. Tive a certeza que estava diante de uma obra prima da natureza, diante de um ser que tinha sido concebido através de um toque divino, o que fez com que eu não tivesse a ousadia de dirigir-lhe a palavra, tudo que pude fazer no momento de sua aparição ante a mim foi manter-me estático e torcer para que aquele momento passasse o mais devagar possível e com isso saciasse os meus desejos mais instintivos apenas com o olhar. Que importa que eu não pude tocá-la? Que importa que eu não pude tê-la visto sorrindo? A vida pra mim também já tinha valído a pena.

Igor Grillo
Enviado por Igor Grillo em 25/04/2020
Reeditado em 11/11/2021
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