A Jovem Guarda

Havia sido simplesmente o acaso que a fizera dobrar naquela esquina? Sob o sol da manhã, olhou para as casas geminadas de tijolos vermelhos que ocupavam um lado e outro da rua, tão iguais que seria difícil encontrar uma característica que as diferenciasse. E no entanto...

Apanhou-se descendo a rua com passos decididos, de quem sabe onde está indo; embora, conscientemente, não soubesse. Parou ofegante em frente à uma das tais casas geminadas, mais ou menos na metade do caminho até a próxima esquina. Subiu os dois lances de degraus que conduziam à porta pintada de branco, a qual ostentava uma janelinha gradeada em preto, e apertou a campainha. Ouviu o ruído estridente reboar no que parecia ser um espaço vazio, e após 20 ou 30 segundos, um vulto afastou ligeiramente a cortina de renda branca que encobria a janela situada à esquerda da porta. Passaram-se mais alguns segundos até que uma chave girasse duas vezes na fechadura e a porta se abrisse.

Ela estava diante de uma velhinha de talvez 80 anos de idade, cabelos penteados num coque preso na nuca, um xale cinza jogado sobre os ombros, vestido caseiro creme listrado de rosa, pantufas igualmente rosas.

- Pois não? - Indagou a senhora.

- Eu estava indo para o trabalho... - começou a dizer como se estivesse colocando para fora um segredo reprimido. - E do nada, algo me fez descer num ponto na avenida principal e vir até aqui.

A velhinha apenas balançou a cabeça, como se esperasse ouvir precisamente aquilo.

- Você está atrasada - declarou. - Alguns anos atrasada.

E afastando-se para dar espaço, indicou o interior da casa:

- Entre. Vamos tomar chá.

* * *

Ela havia tomado o desjejum antes de sair de casa, mas diante da mesa arrumada na cozinha da anfitriã, permitiu-se aceitar uma xícara de chá e torradas.

- A senhora sabe por que vim até sua casa? - Indagou, enquanto colocava dois torrões de açúcar no chá e mexia com a colherinha.

- Sim, eu sei - admitiu com tranquila assertividade a anfitriã. - Como você se chama?

- Aileen Parry.

- Geralmente vocês me procuram na adolescência, Aileen; aconteceu algo errado desta vez. Qual a sua idade?

- Vinte e dois - replicou, levando a xícara aos lábios. - O que quer dizer com "desta vez"? Já houve outras vezes em que lhe procurei?

- Estivemos juntas pela última vez faz um quarto de século - afirmou a senhora. - Infelizmente, você não voltou da sua última missão, embora os resultados pretendidos tenham sido alcançados.

Aileen ergueu os sobrolhos.

- Um quarto de século? Isso foi antes de eu nascer!

A velhinha inclinou-se sobre a mesa e sussurrou:

- Precisamente. Você era uma outra pessoa naquela época; seu nome era Stefanie Hill.

[Continua]

- [14-07-2020]