Comédia Grega

Um bom mito se inicia na busca de um herói. Nossos heróis estão na busca de um significado.

O Ético, seguia fielmente o Mapa que acreditava guardar o segredo do tesouro que o levaria à verdade plena e absoluta.

O Estético acreditava que mostrando que seu corpo é capaz de quebrar qualquer limite, alçaria ao patamar de um ser divino. Por isso, buscava experiências por vezes inimagináveis, mas que o fariam sentir o extremo da medo, ou o extremo da felicidade.

O Religioso buscava a eterna paz. Seu desgosto foi ter vivido os desejos inerentes a existência humana. Acreditava que seria divino se conseguisse resistir aos impulsos da carne.

Os três se reuniram um dia para chegar finalmente a um único sentido para a vida, uma única forma de vivê-la e alcançar a verdade que justificaria nossa existência.

Sentaram-se em volta da fogueira e começaram a debater.

No início, os heróis buscavam mostrar sua alta capacidade de resiliência em relação às diversidades. Porém, com o tempo ficou difícil esconder a real força motriz daquela discussão.

Eles, na verdade, estavam cegos pelo próprio protestantismo, veganismo, poliamorismo, misticismo, altruísmo. Por isso, discursavam, sentiam, julgavam e defendiam com unhas e dentes suas ideologias, como heróis de suas mitologias particulares.

Vocês sabem, na mitologia não existe argumento que ganhe de um Deus, como Freud, Moliére, Maomé, Heráclito.

Por Eles, entregavam suas lógicas, histórias, experiências e expectativas, reduzindo-as a cópias das palavras sacras. Assim, a tão buscada verdade virava o motivo da discussão, não mais seu objetivo final.

E passariam dias e dias tentando convencer uns aos outros de suas sabedorias. Quando, de repente, surge uma tempestade repentina, com um vento tão raivoso que arrastou os pertences dos heróis em direção a um enorme precipício.

No começo, o estrondo do vento uivante os deixou paralisados, porém, vendo seus livros sagrados indo em direção a fenda de pedras o Estético começou a correr para salvar as palavras que justificavam sua existência.

O Religioso viu a situação como um chamado que poderia finalmente provar sua devoção e levá-lo a seu paraíso eterno.

Vendo aquilo, o Ético se sentiu na obrigação de salvar os demais e não ser o culpado por omissão de socorro.

Movidos pelo certo a se fazer, pela adrenalina a sentir, pela redenção a se ter , eles, então, pulam para salvar seus "sentidos da vida" e se tornarem mártir de suas buscas.

Hoje em dia, diferentes pessoas contam essa história com orgulho dos heróis que estavam dispostos a se sacrificar para defender o que achavam certo.

Eu, sinceramente, só consigo pensar na ironia da morte para encontrar um sentido pra vida.