A MISTERIOSA VILA 49 - GOLPE FATAL

O mar, o Gaivota, Aros e Isabelle, velhos conhecidos se reencontram, eles tem incontáveis aventuras e muitas histórias. Já os açoitara com ventos e ondas, mas naquele momento ofereceu sua solidariedade, reconheceu sua dor, sabia que seus velhos amigos precisavam disso, suavizou a travessia até a Ilha do Urso. Aros navegou durante todo o dia, ao final da tarde ele entrou na pequena enseada que dá acesso a ilha. O tom avermelhado do céu projeta na água branda do oceano uma aquarela viva. Aros atraca sem dificuldade, ele conhece como ninguém

a ilha e suas entranhas. A subida é íngreme e pedregosa, precipitando-se para o vazio do abismo abaixo que provoca a sensação de vácuo no estômago. Ele os coloca os corpos sobre seus ombros e os carrega até uma caverna localizada na encosta oeste da ilha. Ali o sol os iluminará todas as tardes.

Após colocá-los lado a lado dentro do sepulcro, Aros e Isabelle ajoelham-se e realizam uma pequena cerimônia com palavras cristãs em respeito a Baldor, em seguida, Aros sela a entrada do jazigo com pesadas rochas, uma sobre a outra formando um portal inviolável. A noite se aproxima e Aros sabe que naquela ilha, o tempo pode oferecer surpresas devastadoras, ele resolve voltar imediatamente para o Gaivota. Partirão ao amanhecer. Retornará a Faroé em busca de Asgard. A noite caiu como um manto negro, mas naquele dia algo muito estranho aconteceu, repentinamente os pássaros marinhos se afastaram da ilha e o sol da meia noite brilhou como nunca, os rochedos das encostas pareciam ganhar vida, entre as suas frestas abismais a escuridão mostrava suas garras em sorrisos, a noite era um misto de beleza e solidão.

Sob aquela atmosfera misteriosa eles refugaram-se no barco. Isabelle não quis se acomodar no deck da traineira, preferiu ficar ao lado de Aros no convés, ambos sentaram-se no banco da proa, e embevecidos com cenário adormeceram. Há alguns dias não conseguem relaxar, a extenuação e o cansaço traíram o guerreiro naquele momento crucial. Em meio a madrugada Isabelle acorda e é tomada por uma força incomum, inclina-se sobre Aros o beija gentilmente deixando sobre sua face adormecida uma lágrima cintilante, em seguida penetra no cenário da encosta íngreme.

Aros acordou com um grito ensurdecedor, seus olhos vasculham o céu e a encosta, Isabelle não está ao seu lado. Um punhal frio atravessa seu peito rasgando em direção ao estômago, o desespero se apossou do seu ser. Seu olhar aguçado lhe revela algo flutuando sobre os redemoinhos da água adiante do Gaivota. Sem hesitar ele mergulha nas profundas águas por entre os rochedos da encosta na esperança de encontrá-la, mas sua busca é em vão. As criaturas famintas que espreitam das profundezas já saciaram sua fome. A infame tragédia que persegue sua existência, mais uma vez mostra sua impiedade na forma mais vil. Tudo que restou de sua Isabelle, fora um pedaço do tecido do seu vestido, e sua cândida mão esquerda. A dor é tão intensa que pensa em tirar sua própria vida, mas isso é impossível, a imortalidade é um fardo cruel e pesado que carregará para o resto dos tempos. Sua jornada não acabará ali. O paradoxo da sua imortalidade, materializa-se com a morte da sua única razão de viver.

Aros parou sobre o convés da traineira olhou para as encostas da ilha, juntou as duas mãos em frente ao peito, perturbado por uma mistura de arrependimento, medo e culpa. Como uma presa nas garras do predador, o guerreiro imortal balbucia entre soluços e lágrimas. Uma rajada de vento veio do oceano e Aros estremeceu, ergueu a gola do seu sobretudo, um trovão ecoou pelos céus, uma chuva fria começou a cair castigando o mar. A chuva encharcava seus cabelos, um fio congelante de água escorria pela sua nuca como uma lágrima de gelo. O horror se apossou do seu ser como nuca.

- Isabelle, Isabelle, porque fizeste isso comigo. - Completa. - Nada mais me apetece, vou destruir a tudo e a todos que cruzarem meu caminho.

Assim, o guerreiro deixa a ilha em direção a Faroé.