A MISTERIOSA VILA 50 - REVELAÇÃO DO MAL

Soa a voz tênue do cocheiro.

- Aros, já esperava você, de nada mais adianta subir até o desfiladeiro, Asgard caiu em desgraça, sucumbiu aos encantos da maldade. - Incrédulo Aros o interrompe e pergunta.

- O que você quer dizer velho? Com dificuldade o velho responde:

- Isso mesmo, Asgard se uniu carnalmente a Thana seduzido pela sua beleza maligna, juntos lideram toda a legião das criaturas da fortaleza. O velho para, respira fundo e sussurra.

- Asgard lhe traiu.

Entorpecido, Aros não quer crer no que ouve, mas o velho já não tem forças para falar, as palavras são guturais.

- Aros, para afastar toda essa desventura que o acompanha, você deve se afastar de tudo e de todos, volte para o mar. Prossegue com dificuldade. - É um pedido que lhe faço.

Transtornado, Aros escuta com atenção, percebendo que o velho não tem mais forças, está a beira da morte, Aros se aproxima do velho e põe a mão sobre sua testa gelada num gesto de reverência, em seguida pega o cavalo no estábulo e cavalga em direção ao desfiladeiro.

Seu peito lateja dilacerado por tantas perdas. Inimaginável, o homem que lhe devotou total fidelidade o traiu dolorosamente. Seu carinho e admiração por Asgard era igualável ao do seu pai. Essa é a pior das vilezas que um homem pode sofrer. Tantos infortúnios criaram calos proeminentes em sua alma, o destino o elegeu para viver tragédias, a imortalidade agora antagoniza a morte de Isabelle, mas será o preço a pagar por ter amado a moça dos olhos verdes.

Em seu peito nasce um grito que soa mudo, da sua garganta brota uma frase.

- Vingança, vingança...

- Mas será triunfo lavar a honra com vingança? - ascenderei das turbas e remontarei o céu, a dor me refutará. Pensa.

- Thana possui imortalidade, e já deve ter iniciado Asgard. Ambos são tão poderosos quanto eu.

Cavalgando resoluto, Aros declara para si mesmo:

- Se tudo que a existência me ofertou foram agruras, então o desfiladeiro encerrará minha saga.

As montanhas escarposas abrigam lugares misteriosos e cheios de armadilhas, os entornos do reino maléfico, são desalentadores. Por entre as frestas do granito, criaturas se esgueiram e miram seu alvo, e este alvo...chama-se Aros. Repentinamente ele é surpreendido por um violento tremor do cavalo, rapidamente desmonta para socorrer o animal, então observa que há uma marca no seu pescoço denotando a mordida de uma víbora.

Perscrutando em sua volta, Aros se depara com a maligna, automaticamente desfecha um golpe com seu sabre e degola a infame criatura, mas ele sabe que o cavalo está condenado, e para abreviar seu sofrimento o sacrifica. Dai em diante, Aros adentra as entranhas do desfiladeiro.

Em seu bornal carrega um grande cabo de marinharia, e uma pequena quantidade de pólvora, seu sabre ainda úmido pelo sangue da víbora, reluz com o reflexo do sol. Assim, esgueirando-se ele avança até o cemitério maldito. De repente, ele percebe um guardião sobrevoando baixo, ele conhece muito bem essas feras, e sabe o que procuram. Imediatamente Aros exala o cheiro de cravo para que a criatura o reconheça como membro do reino. O guardião sibila forte quando passa sobre ele se afastando em seguida. Rapidamente, Aros abre um jazigo, retira alguns restos do seu interior e abriga-se esperando as sombras da noite que se aproximam.

A escuridão configura outra dimensão, revela figuras do submundo das trevas e a ausência total da luz, promove o caótico cenário onde elas se exibem ao seu bel prazer.

A escuridão e o silêncio da necrópole tem suas particularidades.

A tampa do jazigo se move lentamente, a mão de Aros surge tateando o exterior, em seguida toda a tampa é levantada, e ele sai de dentro da tumba. Seus olhos estão fixos no portão da fortaleza. Uma dor latente permeia seu peito, o abraço do amor e do ódio se transformam em um nó na sua garganta, a vingança está tão próxima que ele sente o gosto em seus lábios.