LOUCO DE AMOR*

Era a primeira vez que deparava com aquele rosto, mas parecia conhecê-lo há muito tempo. Sua alma ficou perturbada e não conseguia pensar em outra coisa que não fosse aquela cena. Começou a dirigir, sem saber para onde ia. Só se deu conta quando foi parado por uma freada brusca. Havia avançado o sinal, e, por pouco, não colidiu com outro carro.

Continuou sua caminhada, mas não conseguia tirar da mente o rosto daquela bela mulher, de aproximadamente 27 anos, cabelos louros, de um aspecto encantadoramente macio. Seus olhos, porém, lhe pareciam muito, muito frios.

Ele acabara de chegar de viagem do Sul do Brasil, quando entrou naquele prédio para alugar um apartamento.

Só pôde ouvir o disparo da arma e um grito de dor. Nada mais. Foi tudo muito rápido. Aqueles minutos, todavia, pareciam-lhe uma eternidade.

Refeito do susto e dos pensamentos, resolveu parar e pensar no que deveria fazer. Não conhecia nada por ali. Mesmo assim conseguiu chegar a uma delegacia e contar o que presenciara.

A Polícia se deslocou para o local indicado por ele. Quando chegou ... nada! Nem sinal de tiros, mortes, nada mesmo. Logo pensaram tratar-se de uma brincadeira de mal gosto que algum vagabundo quis fazer.

Nova viagem para Belém. Desta vez não iria para aquele prédio, onde aqueles fatos terríveis aconteceram. Partiu à procura de um novo hotel.

Já instalado, ouviu um tiro e passadas rápidas aproximando-se de seu apartamento. Desta vez a mulher passara bem próximo dele e pôde ver, além de seu rosto, o corpo esbelto. A mulher lhe pareceu ainda mais peculiar. Da porta pôde ver o sangue escorrendo e o corpo de um homem caído ao chão. Desta vez não teve dúvidas, foi correndo dar o alarme à Recepção do hotel. – Seu Antônio, acabo de presenciar um assassinato no corredor.

O recepcionista foi então ver do que se tratava e ... nada de anormal foi observado.

Júlio foi para o apartamento. – Não posso estar ficando louco – pensou ele. Vi claramente aquela cena.

A partir daí estas cenas passaram a ser rotina na vida daquele jovem.

Em pouco tempo estava ele habitando um manicômio.

Um dia, num de seus ataques, conseguiu fugir. No hospital foi um “deus-nos-acuda”. Somente dias depois foi encontrado morto por atropelamento.

No sepultamento, o comentário era um só: Aquele rapaz havia escapado de ser morto por sua noiva, uma barba azul, e, a partir desse incidente, passou a ter visões de uma mulher que matava friamente suas vítimas.

* COSTA, Lairson. Insanidades. Belém: L & A Editora, 2002.