A MISTERIOS VILA 51 - FINAL

Aros se desloca entre as sombras dos corredores, era como se achar no coração da montanha, o cheiro e os cenários empoeirados lhe provocavam sensações indefinidas. Estava totalmente escuro, era preciso conhecer muito bem o local para encontrar o caminho. Aqui e ali, uma daquelas altas paredes farfalhava quando tocada, alguma coisa roça o chão como camundongos assustados, pairava o cheiro mofado misturado ao odor do cravo.

A visão do cão negro de olhos prateados sentado bem ao centro do corredor acelera o fluxo de plasma dentro das suas veias, ele o fita diretamente. Aros conhece o poder daquela criatura, sua mão enlaça o cabo do sabre com força, imóvel, espera sua reação. Lentamente a criatura se aproxima, mas subitamente se mostra submissa, então Aros acaricia sua enorme cabeça. A fera está do seu lado.

Vozes e sussurros sensuais emanam de dentro das paredes, algo sinistro e avassalador tomava conta do ambiente.

Nos confins da mente de Aros, ocorre o desejo de contemplar em meio a escuridão tudo que se movia e jazia em meio as trevas. Esse desejo mistura-se a um leve calafrio, como que sobre sua vida pairasse permanentemente um céu cinzento e carregado, totalmente encoberto. Vultos monstruosos e mutantes o seguiram por toda sua vida, agora ele se pergunta, serão monstros ou apenas minha sombra?

Zigzagueando como uma serpente pronta para dar o bote, Aros penetra nos aposentos dos anfitriões. Não há sentimento de ódio nem de amor, seu coração é como um parêntesis aberto sem nenhuma letra.

A cena é de desatino e alienação, desnudos, Asgard e Tana jazem em suposto sono, o cheiro de perfumes e substâncias esbanjam o sabor de orgia de todas as sortes.

O sabre envolto pela sua mão firme, tem sentido e direção, porém, mas um chamado ecoa em meio ao cenário inimaginável.

- ... PAI?

Aros estremece como a água cálida do oceano atingido por uma enorme geleira. Virando-se para Tana, seu peito lampeja uma chama de paternidade e compaixão, suas mãos tremem.

- Pai, precisa saber a verdade. Aros docemente responde.

- Já não existe verdade nem mentira. E indaga.

- O que aconteceu a Asgard?

Tana, põe a cabeça entre as pernas, e soluça copiosamente tentando proferir palavras.

- Ele era meu guardião, confiei meu amor a ele, mas a sede de poder o embriagou e ele nos traiu. Ele esta morto, eu o matei.

Aros baixa a cabeça e olha o guerreiro estendido inerte. Uma profusão de lembranças desaguam em seus pensamentos, as calmarias, as tempestades, as noites enluaradas, a pesca do bacalhau nos fiordes, os goles de conhaque para aquecer do frio intenso, as gargalhadas divertidas da situações de perigo enfrentadas por aquele guerreiro corajoso, mas que agora não passa de uma sombra desoladora.

Lagrimas escorrem sobre a face do comandante Aros, sem lamento ou gemido, acena com a cabeça em sinal de respeito aquele que um dia amou como um pai, e lutou ao seu lado fazendo jus ao seu nome de guerreiro. Um rasgo profundo se abre no seu coração, jorrando dor desolação e amargura. A vida de Aros é isso.

Num gesto inesperado e carente, Tana se lança nos braços de Aros e lhe suplica em um pedido.

- Pai precisa me levar daqui, vivo num vale de solidão e desolação, a dor e a saudade me abraçam com força e ira, meu destino e o seu são como o mar e o céu em lados opostos, mas no horizonte se confundem e se encontram. Em quase um suspiro ela sussurra.

- Eu o amo.

Aros inesperadamente a envolve em seus braços. Ela prossegue.

- Baldor é uma farsa.

- Quando o senhor foi ferido mortalmente, meu pai de sangue sentindo que perderia o amor da minha mãe, fez um pacto com ela para mantê-lo vivo através da sua sagração. Tana encolhida entre seus braços, prossegue.

- Ele esperou até que a sua sagração chegasse ao fim, então minha mãe voltaria ao seu encontro, e para se mantê-la por todo o tempo necessário, lhe nutria com a seiva das criaturas. Tana está mais calma e Aros tem um semblante plácido.

- Agora que o senhor perdeu os poderes e não tem muito tempo de vida, ele retornou em um corpo jovem chamado Baldor, assim se aproximou de Natasa para não ser descoberto. Aros a ouve em silêncio.

- Eu o seduzi e tentei matá-lo, mas não tive força suficiente, ele é muito poderoso, a desgraça recaiu sobre minha mãe e minha irmã.

Impelido pelo desejo de saber, Aros escuta.

- O funeral na Ilha do Urso, foi outro ardil para resgatar o minha mãe.

- Após o funeral você adormeceu no barco, minha mãe percebendo que era chagada a hora de perde-lo, resolveu dar fim a sua vida, não viveria sem você, então se atirou da encosta no oceano. Tana para um pouco respira e profere.

- Não há mais corpos na gruta funerária, ele os levou a todos.

Aros abraçado a Tana, passa a mão sobre seus lindos cabelos negros, que contrastam com os olhos azuis, e diz.

- Vamos, vamos embora daqui, iremos a Ilha do Urso, preciso ver com meus olhos.

Amparada pelo ombro de Aros, Tana e o grande cão negro de olhos prateados, descem por entre as gigantescas pedras do desfiladeiro rumo ao Gaivota atracado ao cais. O céu está carregado, mas existe um certo ar de brandura e paz. Atrás deles ficou a fortaleza maligna dopada de vileza e maldade.

O Gaivota singra as aguas geladas e profundas das encostas no mar do norte, sua tripulação, tem uma missão.