Tarde de domingo, por volta das dezessete horas, me preparava para abrir a porta da garagem do casarão onde eu morava. Olhava para a estrada, bem no alto da colina, para me certificar da chegada do vigilante do turno da noite.

Avistei a silhueta do Senhor Sidney, passos lentos, compassados, carregava a mochila com as coisas que precisava para a sua ronda noturna. Sentia-me segura e confortável com a presença do velho homem, passado dos sessenta anos, mas que continuava desempenhando com esmero a sua função. Conversar com o Senhor Sidney era muito revelador e enriquecedor ... homem pouco letrado, muito inteligente e dedicado. Conhecia filmes e livros como poucos daquele lugar. Seu vocabulário muito rico e a dicção impecável. Gostava de contar histórias cercadas de muitos mistérios. Os alunos da escola adoravam ouvir as narrativas, sentados no chão, em roda. Ali... o vigilante transformava-se, empoderava-se e tornava-se o senhor da razão.

Passei aquele domingo silencioso... sozinha, longe de qualquer som que não fosse a fala dos presidiários, vizinhos ao meu lado. Esperava a chegada do vigilante para sair um pouco daquela casa tão grande, trancada a sete chaves. Ao abrir a porta da garagem... avistei um enorme facho de luz passando sobre o presídio. Passava devagar...em linha reta. Perguntei ao senhor Sidney se ele via o fenômeno e, afirmativamente, balançou a cabeça. Saímos correndo para acompanhar o assombroso fato, mas a estranha luz sumiu atrás do bambual que circundava o caminho para a escola.

Até hoje penso... como aquela luz passou pelo presídio e a sirene não tocou, as torres de controle de segurança não acusaram a aproximação daquele misterioso facho de luz...







foto by Zaciss