O cômodo vazio

Um homem acorda num cômodo vazio.

Ele não sabe como chegou ali, mas sabe que aquele é um cômodo vazio.

Confuso, tateia ao redor de si a fim de encontrar algo. Sem achar nada além do chão duro e frio sobre o qual repousa, põe-se sentado e olha para os lados: quatro paredes, encardidas, lhe guardam, silenciosas, num quadrilátero. Olha para cima: há um teto, no mesmo estado das paredes.

Botando-se de gatinhas, teima em vasculhar o piso, agora indo além de onde despertou, seguindo por todos os lugares e cantos. Cautelosamente, bate com os nós dos dedos, intentando encontrar alguma peça oca que revele algo.

Nada.

Inconformado, levanta-se e faz o mesmo em cada centímetro quadrado da triste parede cor-de-burro-quando-foge. Bate, apalpa, escorrega as mãos…

E nada.

Desalentado, encara o teto. Sem aceitar o veredicto de que não o alcança, lança mais um olhar pelos lados e conclui que nada há que lhe sirva para ficar mais alto ou prolongar seu tato até o teto. Dá alguns pulos com os braços esticados, já sabendo que não daria certo, mas insiste mesmo assim, renovando seu desgosto.

Angustiado, sem saber onde está ou o que fazer, senta-se no chão e leva as mãos à cabeça. Sua testa está escorregadia de suor, e fecha os olhos para pensar melhor.

"Ora, este é um cômodo.

E está vazio.

Se estou nele...

… entrei por algum lugar."

Concluindo o óbvio, abre os olhos e vasculha novamente os arredores. Sente vergonha de si quando repara que havia uma porta numa das paredes, o tempo todo.

Apalpa o magro corpo e os bolsos vazios: nada de chave.

"Como saio?"

Levanta-se e vai até a porta.

Gira a maçaneta.

"Está aberta!"

Sai do cômodo e segue seu caminho, como já devia ter feito desde o começo desta estória.

Eudes de Pádua Colodino
Enviado por Eudes de Pádua Colodino em 23/11/2021
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