UM MISTÉRIO EM CLIFDEN

Era para ser uma caminhada normal, Kira praticava o esporte uma vez por semana, perto do entardecer. A cidade de Clifden era pacata e um lugar de sossego.

Kira fazia seu trajeto rotineiro quando um odor lhe atraiu a atenção. Ela cobriu o nariz com a manga da blusa e procurou se afastar o mais rápido possível do mau cheiro; entretanto, quando olhou brevemente para o lado esquerdo, ela viu o que parecia ser uma mão saindo de dentro de um amontoado de terra que deslizou com a chuva da noite anterior. A mulher aproximou-se e o odor se intensificou. Ela vomitou.

Kira pegou seu celular e ligou para a emergência. Ela estava em pânico, com a voz trêmula conseguiu dizer sua localização.

A viatura da polícia chegou em poucos minutos, acompanhada de uma ambulância. Kira estava sentada a alguns metros de distância, atônita. Ela viu um policial revolvendo a terra e um corpo em estado de decomposição surgiu. Seu coração disparou, o medo a dominou. Milhares de pensamentos conturbados visitaram sua mente. Clifden não emitira nenhum sinal de desaparecimento, nem um cartaz, nada. Como, de repente, ela encontrara um corpo em decomposição?

Um policial aproximou-se dela e perguntou:

— Tudo bem com você?

— Não! — Kira soluçou.

— Ficará tudo bem, encontraremos uma resposta.

O policial deixou-a se recompor, acenou para um paramédico que prestou assistência a ela.

Após o corpo ser recolhido e Kira voltar para casa, um investigador foi até sua residência. Ela já estava mais recomposta do susto e poderia prestar depoimento.

— Conte-me o que você viu. — Pediu educadamente o investigador.

— Toda semana caminho pela mesma rota. Eu senti um cheiro muito forte, apressei meu passo para sair logo dali, pensei que seria algum animal morto, mas quando me virei, vi uma mão; meu primeiro instinto foi chamar a emergência.

— Agiu bem.

— Quem era?

— O morto? Ainda não sabemos. — O investigador disse. — Há mais alguma coisa? Algum detalhe que deixou passar? — insistiu o agente da lei.

— Apenas o que relatei.

— Tudo bem, se souber de mais alguma coisa, entre em contato. — O homem deixou seu cartão e retirou-se.

Na semana que se passou, o único assunto na cidade era o corpo encontrado por Kira. Nos bares, lanchonetes, lojas e entre os vizinhos, somente esse assunto era especulado. Várias teorias conspiratórias foram criadas, algumas eram absurdas e outras até criativas.

Um mês e meio após o incidente, o investigador que havia procurado Kira deu uma entrevista coletiva à impressa esclarecendo o crime:

— O corpo encontrado era de Robert Chaese, morador de Roundstone, e o assassino é o seu filho. Ainda não sabemos o que levou Marcus Chaese a matar o pai, o que se sabe é que os dois tinham uma relação conturbada. Marcus está detido e confessou o crime. A única coisa que ele disse sobre sua motivação maior foi: “Fiz o que precisava fazer”. A polícia está investigando para saber se há mais elementos a ser acrescentados ao caso. Por enquanto, é o que a polícia de Clifden tem a dizer.

A vida de Kira seguiu normalmente, quando, certo dia, ela encontrou uma carta embaixo da sua porta. Não havia remetente, e a mensagem era breve:

“Você deveria ter deixado em oculto o que estava em oculto”.

Ela ficou sem reação. Sentiu-se como se uma estaca tivesse perfurado seu coração. Suas pernas ficaram mole e ela precisou se sentar. Um barulho vindo do quarto a deixou sobressaltada. Ela gritou:

— Quem é?

Não houve resposta. Seu primeiro ímpeto foi correr para fora. Quando ela alcançou a porta, uma mulher, em pé atrás de Kira, indagou maliciosamente:

— Indo para algum lugar?

— O que você quer? — Kira perguntou, virando-se lentamente para a voz atrás de si, seu corpo todo tremia.

— Você deveria ter ficado de bico calado.

A estranha puxou uma pistola da cintura e atirou na cabeça de Kira. A assassina limpou seus rastros da casa e partiu.

Quando a polícia chegou, após denúncias de vizinhos que ouviram o barulho do disparo, o corpo de Kira estava estendido, o sangue empapava o chão.

— Clifden está se tornando um lugar perigoso. — Falou o policial que cobria o corpo da vítima.

Felipe Pereira dos Santos
Enviado por Felipe Pereira dos Santos em 02/03/2022
Reeditado em 02/03/2022
Código do texto: T7463775
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