A POÇÃO (dedicado à Poetisa Patricia Justino e, ao amado e saudoso poeta Facuri)

 

 

Patrícia, circulava pelo harém com a mente meio aérea. Não sabia o que sentia, angústia ou estava apreensiva, mas, era um mal estar. Só estava um tanto estranha, uma pressão no peito, mas, não era dor, um rubor nas faces ia e vinha e, estava agoniada. Resolveu andar à toa entre as tendas, de quando em quando, parava para observar as cores dos véus transparentes, os tapetes expostos ao Sol. As tonalidades das peles tão diversas. Pessoas tão diferentes, culturas e dialetos estranhos. Religiões, então, muito diferentes.

 

A cada jornada o líder da tribo, derrotava os guerreiros, conquistava novos territórios, angariava novos aliados, tomava suas mulheres, executava os primeiros filhos e, adotava os pequenos. Ele tinha fome de conhecimento, cuidava de suas muitas esposas por igual. Tudo que tomava das tribos conquistadas, era divido por igual entre os seus líderes.

 

As crianças tinham um compromisso diário, aprender todas as línguas, o uso das armas, montar à cavalo e, entender um pouco de cada religião nova, que aparecesse pelos caminhos. Ele mesmo não tinha muita cultura, mas, era um líder e guerreiro nato, justo, conciliador, agregador e, os seus pares o seguiam cegamente.

 

Havia muito luxo nas tendas dos líderes, muitas joias, tapetes persas em profusão, tecidos de tramas maravilhosas, insensos e óleos perfumafos, as tendas eram grandes e, todas sobre rodas, puxadas por seis bois cada uma. A turba não tinha paradeiro fixo, o grande líder Facuri estava sempre em busca do fim do horizonte, seu desejo era de conquistar o mundo todo e, como ele não sabia onde ele terminava, seu povo estava sempre em movimento. Pousavam por poucos meses e logo partiam.

 

O primogênito da primeira esposa, já estava em idade de acompanhá-lo nas batalhas, entender onde seria o seu lugar quando ele partisse ou, não pudesse mais liderar. A mãe não queria o filho tão cedo correndo perigo, mas, ela não podia negar que isso era a sina dele, tampouco pretendia abrir espaço, para o primeiro filho da segunda esposa.

 

Patrícia sem querer, ouviu a mãe pedindo ao Xamã em surdina, uma poção para dormir, pois andava com dificuldade de serenar, durante a noite. Ele também sabia que deveria atendê-la prontamente e, foi buscar o que ela pediu.

 

Patrícia não teve a intenção, de ficar escutando a conversa da mãe, mas, sabia que ela estava mentindo, pois ela dormia bem demais. Porque o pedido segredado? Era no mínimo estranho. O mal estar que estava sentindo passara, mas, ficou rodeando por fora da tenda dourada da mãe. Logo viu o Xamã retornar, ele entregou o pedido a ela, explicando para ter cuidado, pois bastavam 03 gotas para um sono profundo, mais do que aquilo, ela poderia nunca mais acordar, um arrepio passou pela espinha de Patrícia, mas, devia ser frio. Era bom voltar para a tenda que dividia com suas seis irmãs, já estava começando a escurecer.

 

O dia seguinte seria de muito trabalho, a turba ia se movimentar mais uma vez. Assim que o dia clareou muitos ruídos começaram. Havia muita coisa para organizar, de repente gritos aflitos se ouviram. Os sons agoniados, vinham da tenda azul prateada da segunda esposa de Facuri. Saindo da tenda da quarta esposa, ele correu pra lá e, a segunda esposa estava morta, sem sangue ou marcas aparentes, só parecia estar dormindo, foi uma comoção, algumas pessoas tristes, as outras esposas nem tanto, mas, a que parecia mais desesperada e, consolava Facuri, era a primeira esposa. Só Patrícia, estava atônita, porque sabia do ódio que sua mãe nutria pela mulher. Sua mãe por certo matara a rival. Patrícia ficou horrorizada, mas, se calou.

 

O filho primeiro da falecida, não parecia sequer emocionado. Depois do cerimonial de cremação do corpo, um frasco foi encontrado estilhaçado sob as cinzas e, o filho primeiro da falecida, expressava um sorriso fino de escárnio e, um ar de regozijo.

 

 

 

Cristina Gaspar
Enviado por Cristina Gaspar em 21/06/2022
Reeditado em 22/06/2022
Código do texto: T7542968
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