SORRISOS REPENTINOS

Há uma multidão em volta, grupinhos se abraçando e se divertindo, por todos os lados risinhos e risadas soltas, conversas apressadas, pessoas descontraídas, um verdadeiro universo humano se alegrando com a vida. Mas ninguém olha para ele, que infelizmente se encontra sozinho, ar de tristeza e abandono na face, pensativo, calado por não ter interlocutor, nos olhos uma súplica por atenção, qualquer que seja, mesmo se for para manda-lo à merda, ou que saia do caminho, talvez ao menos lhe dê um abençoado esbarrão para pedir desculpas. Isso lhe bastaria, tão só e desprezado se sentia.

Casais felizes indo e vindo, trocando afagos e doçura, oferecendo carinhos mútuos, adiante turminhas brincalhonas se empurravam com gestos ou palavras triviais, crianças corriam e gritavam, o casal de idosos com máscara por causa da Covid, mãos dadas, passeavam sem ve-lo. Os outros interagiam e viviam, mas para ele nada, não era visto nem notado por ninguém. De vêz em quando algum pet levado por alguém o olhava com indiferença, indo farejar ou cheirar os pés de qualquer outro dos presentes, menos os dele. Nem os animais, nem mesmo os animais lhe davam a menor bola, o mais ínfimo resquício de contato.

Ele queria ao menos chorar no intuito de se fazer percebido, quem sabe alguma garota sensível viesse a ele e indagasse por que razão chorava? Impossível, as lágrimas fugiam de seus olhos abatidos, pareciam ter secado no deserto do seu coração. Por que ele estava ali no meio da multidão sonhando com sorrisos repentinos que lhe poderiam, de forma milagrosa, lhe serem dirigidos? No entanto, se ele chorasse não o tachariam de maluco ou coisa que o valha? Não se afastariam ainda mais dele? Melhor voltar às quatro paredes de sua existência e tentar muitas e muitas vezes, pelo menos, chorar. Ou gemer, o que conseguisse primeiro. Então, serpenteando na multidão, cabisbaixo, amargurado, se foi para o seu tosco mundinho depressivo de ser só.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 27/08/2022
Reeditado em 28/08/2022
Código do texto: T7592435
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2022. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.