UM ABRAÇO DESESPERADO

A criança maltrapilha corria desesperada em meio às pessoas e aos carros, entristecida, faminta, apavorada, abandonada, desprezada, perdida num mar de revolta amargura. Chorava e soluçava num pranto alarmante, ao mesmo tempo ressentido e sereno, explosivo e brando, sem rumo, arrasada, em busca de algo perdido. Porventura buscava o amor, a ternura, o sorriso, o carinho, a atenção, os cuidados, o aconchego de uma palavra de conforto?

Provavelmente tudo isso junto e algo mais, a interação com seus semelhantes, uma pausa da indiferença, aquele apoio esperançoso e reconfortante capaz de abafar qualquer dor, o afago que jamais tivera antes, a paz interior que lhe fora negada desse os primeiros anos de abandono à porta de alguém desconhecido que não se compadeceu dela, que não a abrigou nem alimentou, não a abençoou nem agradou, nunca lhe apresentou à alegria.

Corria, e era desabalada e enlouquecida a carreira, sem destino, por qualquer rota ou vereda, nessa ou naquela rua, sem medo mas num atoleiro de lágrimas, tentando ao menos o imponderável, o translúcido, o utópico. No entanto, se esses objetivos não fossem alcançados, se desaparecessem as soluções, um abraço lhe bastaria, apenas isso, ainda que fosse um abraço desesperado. Quem lho daria?

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 27/09/2022
Reeditado em 27/09/2022
Código do texto: T7615379
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2022. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.