ELA FOI ENVENENADA?

Era por demais perceptível seu olhar de desprezo, aquele ar de repelência que parecia flutuar até ele com a ânsia da fera furiosa. E por que todo esse ódio representado no bater dos olhos, se antes neles havia tanta ternura? O inconcebível na transformação emotiva, a ruptura do bom sentimento de outrora espelhando tamanha mudança? Magoava, ah sim, magoava e doía. Porque a dor do amor morto tem a mesma dimensão do prazer dos primeiros dias de namoro ardente. Quando a alegria desaparece do casal torna-se quase impossível reencontra-lo.

Mas se tanto era assim num mundo onde milhões de outras mulheres esperam a felicidade, um sorriso cativante e o carinho de braços amorosos, por qual motivo ela não se ia nem ele tomava a atitude de buscar carinho nalgum outro olhar? Viver infeliz não é obrigação, dizer adeus ao poço que secou é até mesmo um ato misericordioso de humanidade. Como permanecer tentando navegar num mar morto? Algo muito errado não estava nada certo

Ele tomou a iniciativa, considerando que suportar conviver com a mentira e o desconforto do desamor perdera todo sentido. Ela não queria a separação por ir contra os princípios religiosos trazidos da infância e tornados perenes em seu viver; ele esmorecera o ímpeto de deixá-la em razão do, ora vejam, respeito aos ideais dela. Medo talvez de enfrentar o discurso doutrinário se ousasse falar em divórcio. Então, como teria coragem de envenena-la conforme pensara? Porém, decidido, não hesitou em ir ao porão e pegar a caixa de veneno contra rato. Apenas ainda não sabia como perpetrar o crime. Mas faria. Em breve.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 05/11/2022
Reeditado em 06/11/2022
Código do texto: T7643579
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