NA DENSA FLORESTA

" 14/11/2022 - Falta ânimo, desapareceu o incentivo, já não existe nenhuma razão para ser e estar. Então resta o quê? O abismo insondável, o fundo do poço sem fundo, a luz apagada ou quebrada do túnel. Ontem foi o amor generoso, pródigo e abundante; mas hoje é o escuro do nada, o mofo do desdém, o altissonante e ensurdecedor urro do silêncio. Penso que não vale a pena o prosseguir, a rota da jornada tornou-se densa floresta negra sem rumo.

Haverá amanhã? Se sim, para que e por quê? É preciso entender quando o brilho do sol se apaga, não tem mais lugar e as montanhas inacessíveis nos espreitam com ar zombeteiro. O instante não volta mais, a porta está trancada, a probabilidade de saída é nula. Aceitar a derrocada se mostra a mais plausível alternativa, partir para outra é utopia tola. Outra virou apenas enigma de difícil elucidação.

Qual a melhor solução? A escolhida por Marilyn Monroe, o haraquiri, o deitar e esperar? Está última seria demorada e estúpida. Mas também jamais optarei por cordas, são por demais dolorosas, infringem sofrimento desnecessário. Bom, não vou revelar de que forma nem como, quem se importar comigo que quebre a cabeça para descobrir. Foi bom enquanto durou, e no entanto obviamente também foi ruim. Este bilhete é para ninguém, sei que não haverá quem se interesse. Sem despedidas, desgosto delas, embora saiba que dar adeus ao vento seria o derradeiro abraço que há tempos não tenho. Telefonarei para a polícia para ser rapidamente encontrado, detesto exalar cheiro de decomposição, acho indigno do ser humano. Pelo menos isso "

Quando a polícia chegou ela já estava morta.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 14/11/2022
Reeditado em 15/11/2022
Código do texto: T7649774
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