A FILHA DO PISTOLEIRO

Quando conheci Edna não estava verdadeiramente interessado em ter um relacionamento com ela. Ela era magrinha, meio dentuça, um tanto feia confesso, falava como se estivesse com pressa e realmente não era agradável aos olhos. Acontece, porém, que todas as noites eu e um grupo de amigos íamos à procura de namorar as garotas de um certo bairro da cidade, as quais se reuniam no adro da igreja também com o intuito de encontrar alguém.

As mais bonitas e bem arrumadinhas logo se engraçaram com meus amigos, para minha tristeza, sobrando para mim então a Edna. Para não ficar só, comecei a namora-la, afinal de contas carinho é sempre bom vindo de uma mulher. Se aparecesse outra no pedaço e mostrasse interesse em mim eu descartaria Edna, pelo menos esse era o plano inicial. Não apareceu mais ninguém, infelizmente. Assim, continuei quebrando o galho com ela.

Depois de três semanas de namoro algo apavorante aconteceu. Estando já bem íntimo de Edna, uma noite acompanhei-a até a casa dela, ali por volta já de quase meia noite. Nas proximidades da casa, Edna, a voz trêmula, completamente nervosa, avisou que o pai a esperava no portão. Perguntei por que ela parecia estar tão amedrontada, e foi quando ela me disse que ele vivia escondido no meio do mundo porque era matador de aluguel e há pouco tempo havia assassinado um prefeito do interior. Ao ouvir isso, eu que passei a tremer na base, abalado por saber que minha namorada, de quem eu nem gostava mesmo, era filha de um pistoleiro.

Mas, tive que ir com ela até o portão onde o pai a esperava. O cara se mostrava furioso, gritando com a filha antes mesmo de chegarmos perto dele. Em lá chegando, atônito, vi o sujeito puxar a filha pelo cabelo e joga-la para dentro de casa, após o quê pegou-me pela mão, levou-me e me encostou na parede da entrada. Puxou um trinta e oito e colocou a boca do cano na minha cabeça. Ríspido e irado, perguntou o que eu tinha feito com sua filha querida, não esperando eu gaguejar a resposta para ameaçar que ou eu casaria com ela ou ele me mataria.

E que não adiantaria fugir pois ele me encontraria e cortaria minhas bolas fora antes de me matar. Nunca senti tanto medo na vida, foi o momento mais assustador e surreal de que me vi protagonista. Não teve jeito, o cara ficou escondido na própria casa, pegou meu endereço, o nome de meus pais, onde eu trabalhava e exigiu casamento o mais rápido possível. Eu, com medo de morrer, terminei casando com Edna. Tivemos cinco filhos. Dez anos depois que o avô de meus filhos foi morto numa emboscada e não tinha mais perigo para mim, eu me separei de Edna.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 05/02/2023
Reeditado em 05/02/2023
Código do texto: T7711884
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