ACONTECEU NA MADRUGADA

Acordei durante a madrugada para satisfazer uma necessidade fisiológica, o que normalmente me ocorre por razões médicas sem nenhuma relevância para o que vi, aconteceu e me assustou sobremaneira.

Durmo no escuro absoluto porque dessa forma a melatonina tem sua produção aumentada e induz rapidamente ao sono, mas quando sou acordado por meu cérebro para ir ao banheiro não deparo com nenhuma dificuldade de enxergar no breu do quarto. Tratando-se de uma suíte, e como faço todas as noites, abri a porta do toilette mantendo os olhos fechados com vistas a garantir o retorno à tranquilidade do sono e entrei.

Foi quando percebi, mesmo os olhos estando fechados, uma claridade inusitada e inesperada, vez que o ambiente é discretamente iluminado pelas luzes exteriores do condomínio onde moro e no porão do meu íntimo já reconheço essa particularidade. Estranhei. Ouvi um suave movimento. Entreabri um olho e fiquei todo arrepiado.

Uma criatura sentada no vaso sanitário, os olhos de fogo, sem boca e sem orelhas, pequena e assustadora emitiu um som abrupto, pegou o desconhecido aparelho que colocara sobre a pia e que só nesse momento vi, apertou um botão azul, emitiu uma folgada de som jamais escutado antes, embora fosse desprovido de boca, e, puf desapareceu.

Trêmulo e sem ação, inerte, os sentidos descontrolados, permaneci assim por um tempo que não pude calcular. Pareceu-me estar voando, rodopiando no ar através de túneis banhados de luz, depois rolava pelo chão às lágrimas, caía na areia movediça sendo puxado para baixo até me afogar...e voltar à lucidez sem entender, tonto, amedrontado e sozinho. A tampa do vaso estava levantada. Caminhei até lá e olhei. Não lembro se gritei, me esgoelei ou desmaiei ao ver a coisa boiando na água do vaso. Lembrava um boneco de filme de terror de tão horrível. Pior, mexia-se vivo. Apavorado, tapei o vaso e dei descarrega. Tudo que recordo depois disso foi que acordei no chão do banheiro coberto de tinta azul.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 13/02/2023
Reeditado em 13/02/2023
Código do texto: T7718312
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