FACAS DE OURO CRAVEJADAS COM DIAMANTES

Embora silenciosas e compenetradas no que faziam, mostravam-se frívolas em gestos e atos. Impressionou-me sobretudo o momento em que elas cortavam a carne do churrasco. Num banquinho com assento de veludo, estrategicamente colocadas, havia facas folheadas a ouro cravejadas de diamantes, usadas para retirar, através de corte cirúrgico, o naco do suculento filé de bisão norteamericano tão nababescamente devorado por cada uma delas. Todas vorazes ante os pedaços mastigados.

Não tenho absolutamente nenhuma ideia do motivo de minha presença naquele ambiente escandalosamente luxuoso. E nem ao menos uma só pessoa dava atenção a mim. Concentradas na apetitosa e certamente caríssima refeição, ali eu não existia, era apenas e talvez um sopro translúcido, a ausência despercebida da leve brisa passageira.

Por qual razão estava eu naquele ambiente de milionárias se não fazia parte da elite endinheirada? Notei que minha mão direita segurava uma bainha enxovalhada contendo a faquinha já meio enferrujada do padeiro que a enfiou num sapo e, depois, usou-a para tentar matar um colega somente por ele ser feio demais. Arrepiado de nojo por aquela coisa asquerosa estar comigo, joguei-a de qualquer jeito, projetando-a sem querer sobre a arma branca nobre da madame perua mais próxima de mim.

Ela virou o rosto vermelho de ódio, encarando meus olhos. Imagino ter sido apenas nesse momento percebida a minha presença indesejada no bacanal de comida para marajás. " Tire essa porcaria enojante daqui seu inútil!" Gritou. Apavorado por me ver alvo tanto dela quanto dos olhares das demais comensais, cuja interrupção de seu frenesi alimentar as deixou iradas, corri em direção à saída. Lá fora avistei açogueiros retirando um quarto de bisão norteamericano dum caminhão e se dirigindo para a entrada e no rumo da cozinha do local. Sim, traziam mais carne para o deleite da mulherada milionária usando suas facas douradas e empenhadas em comer, comer e comer. Desapareci nas brumas doa pensamentos adormecidos.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 03/03/2023
Código do texto: T7731712
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