AGORA É TARDE, JÁ ESTA FEITO!

No momento de minha queda eu não tinha a mínima condição de avaliar a extensão dos danos subsequentes, simplesmente prossegui meus passos sem entender o significado exato do tombo em mim por inteiro. Caí quando menos esperava, e esse tipo de tropeço era tudo que eu mais procurava evitar, pois tantas vezes fui advertido.

Entretanto, quase inconsciente, reconheço ter brincado com os obstáculos, decerto me achando acima e forte o bastante para jamais cair. Impensado que fui! Por consequência, subestimei os perigos, confiei demais nas minhas pobres forças e fechei os olhos às rasteiras constantes do destino a casa passo dado e em cada esquina dobrada.

Ao acontecer o evitável que se tornou inevitável, todo o meu ser entrou em descontrole, os rumos desnortearam, os pensamentos afogaram em tumultos, tudo ao redor de mim descoloriu, empreteceu, a vida sofreu uma reviravolta de cento e oitenta graus. Nesse redemoinho, buscando recobrar o bom senso antecedente ao esbarrão da alma, perdido no desagradável universo da queda, perguntava a mim mesmo o que eu tinha feito e recebi como resposta "agora é tarde, já está feito".

Anos depois, ainda no rés do solo, vem-me à mente os motivos dessa catástrofe emocional, a alma tendo a percepção da intensidade do ocorrido, continuo em lágrimas porque anseio acima de tudo levantar para recomeçar de onde parei. Nunca é tão fácil, bem sei, pois arrastei-me alhures, vaguei no retrocesso, sujei as mãos no lamaçal turvos dos caminhos enquanto o chão insistia em me segurar no próprio desastre do cair.

Pranteia-me sobremaneira o coração, doravante, dói a agonia de por enquanto não ter sido possível erguer-me da areia quente do vasto deserto por onde tenho andado. Deserto este que parece se estender por ter se multiplicado em grande solidão, mares de desprezo e nuvens escuras de indiferença por parte de quantos, ao invés de darem a mão com o intuito de ajudar-me a levantar, somente lançam duros olhares repreendedores, ao passo que, no silêncio da voz, usam os olhos para realçar a frase " eu avisei, eu bem que avisei!'

Jogaram-me no esquecimento de minha queda, talvez até tenham rido de mim ao me verem no chão. Foi minha culpa sim, minha máxima culpa, reconheço. Mas agora abomino a razão que me levou à queda, quero mais que tudo reencontrar o Caminho de volta para o aprisco. A porta da graça permanece aberta, graças a Deus 🙏

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 25/03/2023
Reeditado em 26/03/2023
Código do texto: T7748908
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