NAS NUVENS

Para conseguir voar alto, embora não tanto quanto uma águia, apenas voar e já me bastava, precisei por anos me arrastar, nesse longo período sendo pisoteado por lágrimas, ironias, tristezas, maldade entre outras adversidades. Nos meus sonhos de alcançar as alturas não cogitava ultrapassar oceanos como fazem as ave migrantes, desejava ansiosamente, tão-somente, sair do chão e de sob as botas, pés e sapatos das más criaturas.

Confesso, em nenhum instante da jornada foi fácil ou ameno, brotaram muitos obstáculos, armadilhas se armaram visando impedir-me. Talvez seja assim também com todo mundo, é provável, mas sei de mim somente, dos machucados, das feridas, das dores delirantes, dos abraços que nunca recebi, de portas fechadas à minha presença, dos sorrisos que me foram negados.

Quão longo se mostrou o caminho percorrido, as bifurcações, os cruzamentos, os tropeços. Ali alguns empurrões, logo adiante punhaladas traiçoeiras, olhares negativos. Tufões e furacões. Variados e múltiplos óbices que se me depararam. Mesmo em agonia, saltei o quanto pude, desviei deles, escondi-me das vicissitudes. Venci e perdi batalhas no decorrer da guerra da vida. Contudo, eu mantinha e cultivava na alma algo pouco peculiar aos peregrinos: a perseverança. Porque sabia ser impossível bater as asas da imaginação sem garra ou sem luta. Os fracos caem sem mais levantar; os fortes agarram a esperança e seguem. Até chegar a voar enorme era a estrada a percorrer.

Além da perseverança e da resiliência, algo mais que a força de vontade me impulsionava. Os livros, o estudo, esses degraus auxiliares na busca pelo conhecimento e a sabedoria. Os verdadeiros companheiros do vencer. Através deles deixei de rastejar, aprendi a caminhar e a escolher as melhores e mais excelentes estradas, as árvores mais frutíferas e frondosas, as chances mais oportunas e ideais. A cada leitura um afável sonho, novos horizontes se abrindo e pequenas mas importantes janelas se descerrando.

A partir de então, as asas começaram a nascer, crescendo pouco a pouco, aliviando o coração. Sim, apesar disso ainda tentavam desanimar-me pelas pisaduras, os empurrões e os percalços. Pobres deles! De nada adiantaram seus vãos esforços, agora eu criara asas, o medo se transformou em coragem e os limites caíram por terra. Quando enfim voei atingindo a altura julgada suficiente, em companhia da alegria, de cima olhei aqueles que me pisaram e senti misericórdia deles. Alguns jamais alçariam a mesma distância. Voar nunca foi para todos.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 04/04/2023
Reeditado em 04/04/2023
Código do texto: T7756183
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