BEM NOS OLHOS ( baseado em fatos reais)

São tantas as bizarrices e estranhezas que vemos mundo afora, fatos, coisas e atitudes esdrúxulas quase inimagináveis, que diante delas nos deixamos ficar inertes pela perplexidade a nos dominar. Muitas delas acontecem diante dos nossos olhos, de algumas apenas ouvimos comentários, mas elas estão por aí horrorizando e surpreendendo.

O relato a seguir nos transmite um pouco dessa realidade surreal e cheia de nuances. Envolve a sutileza da influência provavelmente sobrenatural e o misticismo da imaginação. Digo assim porque o dantesco caso proveio do singelo coração de uma jovem. Sonhadora, introspectiva, entregue aos devaneios inusitados de uma ideia fixa que tomou conta de sua alma, ela se auto alimentou de pensamentos realmente inauditos e inesperados.

Sem confidenciar a ninguém o plano macabro concatenado em sua mente doentia, certa de que aquilo que faria consigo mesma era não apenas convicção, nada tinha de maluquice ou insanidade estúpida, ela idealizou cada detalhe minuciosamente com o objetivo de levar a cabo seu tresloucado intento.

Não havia erro, a jovem refletia, ela precisava sem dúvidas efetivar o planejado, mais ainda por compreender o quanto estava consciente do que deveria fazer. Simplesmente não se achava no direito de ter o que todo ser humano já nasce possuindo naturalmente e preserva com todo zelo, cuidado especial e receio de perder ao longo da vida. Assim, dizia para si mesma, ela não merecia aquela dádiva, era para vir ao mundo sem eles, de maneira que urgia desfazer-se desse privilégio indevido. Nada havia de errado com eles, eram perfeitos e saudáveis, mas na sua confusão mental entendia ter sido um erro da natureza dota-la de dádiva tão excepcional. Assim, depois de muito meditar sobre o assunto, concluiu ter chegado a hora de fazer consigo o que o destino deveria ter feito. Usando um punhal afiado, decidida, escondida no banheiro, arrancou os próprios olhos. Doeu muito, entrou em agonia, claro, porém há muito ela sabia que era para ter nascido cega. Retirar seus olhos, portanto, tratava-se da coisa certa. Finalmente estava completamente cega, como na ótica dela deveria ter sido ao nascer. Porque, acreditava piamente, ela não tinha o direito de enxergar, não poderia ser dotada de dois olhos lindos e saudáveis. Então agiu para corrigir o erro da natureza. Agora sim, sentia-se deficiente visual e feliz.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 31/05/2023
Reeditado em 01/06/2023
Código do texto: T7802446
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