UM TIRO NA MADRUGADA

Subitamente ouviu-se um tiro na noite, o grito de terrível agonia veio a seguir. Depois o silêncio. Estampido e brado gelaram o coração de quantos escutaram, provocando temor e perplexidade. O que teria acontecido? Quem atirou? Quem seria a vítima?

Todas essas perguntas zumbiam como moscas na mente das testemunhas auriculares, havia nas redondezas um clima de tensão acelerando o ritmo cardíaca de cada. Algum assalto? Crime passional? Fraticidio, parricidio, de que se tratava e onde fora a ocorrência? No condomínio ninguém ousava ofegar ou murmurar algo, até mesmo os vigias sentiam medo.

Claro, o tiro saiu de um dos trezentos e oitenta apartamentos, alguém havia assassinado alguém. Ou poderia ter sido um suicídio? Como saber? O silêncio pós ocorrência era torturante, não se viu ninguém usar o celular para comunicar o fato à polícia. O síndico que arcasse com tal responsabilidade, pensavam os moradores. Todos passivos diante do acontecimento macabro misterioso, era surreal a capacidade humana de recolher-se aos seus lençóis quando bala e sofrimento agitavam vidas em algum lugar.

Considerando não ser deles o problema, levando também na alma a ideia de que as coisas iriam se resolver de uma forma ou de outra ao amanhecer, isso ficou patente na posterior indiferença coletiva, de maneira a serem descobertos atirador e vítima ao clarão do sol, e tendo em vista barulho e arma e o grito de dor não se repetirem, um a um os moradores do condomínio se recolheram aos seus leitos e dormiram. Não era da conta deles, não foi com eles, os responsáveis pela tragédia que recebessem as consequências. Passaram o medo e a emoção, permaneceu a indiferença.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 09/06/2023
Reeditado em 12/06/2023
Código do texto: T7809766
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