Força pela Alegria

[Continuação de "Entrevista com o capitão"]

- O Volkswagen bege - disse calmamente Viktor Fábián, bloco de notas e caneta na mão, atento à reação no rosto do interlocutor.

- Qual Volkswagen bege? - Inquiriu surpreso Martin Boros, o marido da mulher assassinada.

- A polícia ouviu algumas testemunhas... elas disseram que sua esposa entrou num Volkswagen bege depois de sair do trabalho, no dia em que desapareceu.

- A polícia não me falou nada disso, nem me perguntaram nada relacionado a um carro - Boros remexeu-se incomodado na cadeira da sala de estar de seu pequeno apartamento no centro de Kalotúr. - De onde teria vindo esse Volkswagen? É um veículo estrangeiro, não vejo um rodando pela cidade desde...

Seu pomo-de-adão subiu e desceu, enquanto ele parecia se lembrar de algo desagradável.

- Desde a guerra - declarou finalmente.

- Faz mais de quinze anos - ponderou Fábián. - Tempo demais para um VW da Wehrmacht ainda estar circulando por aí. De qualquer forma, vou lhe pedir para não comentar o que eu acabei de lhe dizer... poderia atrapalhar as investigações da polícia.

- Não vou falar nada com ninguém - prometeu Boros. - Mas não creio que Anett aceitaria carona de um estranho... inda mais num carro estrangeiro.

- Sim, - acedeu Fábián afavelmente - tenho certeza de que é só um mal-entendido. Podem ter visto uma outra mulher e confundido com sua esposa.

Boros ajeitou-se na cadeira, reflexivo.

- Agora que falou... algumas vezes confundiram mesmo minha esposa com outra pessoa.

- Você fala de Dorka Bognár, da TV...

Boros balançou a cabeça em concordância.

- Não que Anett fosse tão parecida assim, e também era mais jovem, mas como algumas pessoas começaram a dizer isso, ela começou a cortar o cabelo no estilo da apresentadora. Eu dizia que tinha me casado com uma celebridade...

Pareceu subitamente lembrar-se de que a esposa jamais voltaria para casa e parou de falar, uma expressão de dor tomando conta do seu rosto.

* * *

- Que história! - Exclamou deliciado o editor-chefe Attila Márton, com um exemplar recém-impresso do "Kalotúr Sztárja" nas mãos.

- Tem muito mais nesse caso do que estupro seguido de morte - avaliou Fábián. - Se bem que se fosse apenas isso, já seria bastante trágico.

Márton fez um gesto afirmativo.

- Essa coisa do Volkswagen bege... não há nenhum Volkswagen na cidade inteira! Pataki quer saber como conseguiu essa informação.

Fábián abriu as mãos.

- Não posso revelar minhas fontes, mesmo para a polícia, você sabe. Mas também não vou afirmar que se trata de um dado confiável; as pessoas costumam inventar coisas absurdas, principalmente quando estão diante do desconhecido. Um Volkswagen bege é algo de que elas se lembram, e não exatamente como algo bom.

Márton contemplou brevemente o teto da sala, como que invocando uma memória.

- A cor não era exatamente bege, mas cáqui.

- Seja lá como for, a testemunha viu esse carro parar e Anett Boros embarcar no assento do carona - prosseguiu Fábián. - Tomaram o rumo da saída da cidade; na direção da floresta, você sabe.

- Talvez ela tenha conhecido um estrangeiro e se tornado amante dele - divagou Márton. - Talvez o homem tenha resolvido terminar o relacionamento e, como ela não concordou, a matou.

Fábián esboçou um sorriso.

- Você está quase escrevendo a história por mim - declarou.

- Não pretendo tomar o seu lugar - prometeu solenemente o editor-chefe.

- [Continua em "O Volga preto"]

- [10-07-2023]