BURBURINHOS NO MEIO DA NOITE (BVIW)

 

Arezza no quintal da sua casa observava o edifício do outro lado da rua. Ficava intrigada com uma família do sexto andar. A amiga Lilu, que morava no mesmo pavimento, uma vez comentou que durante o dia havia um silêncio mortal, como se nenhuma viva alma habitasse aquela morada. Durante a noite, a luz violeta ficava acesa até o raiar do sol e dava para se ouvir cochichos, sem que fosse possível entender o que diziam. Lilu disse até que os moradores nem conheciam esses vizinhos, mas isso já era exagero de gente à toa que adora inventar história.

 

- Mamãe, por que será que usam lâmpada roxa? Será que nunca dormem? Esquisito, não acha?

- Ah, filha, certas pessoas têm hábitos diferentes e parecem estranhos para quem está de fora do convívio. – Dona Maria tentou aquietar a criança que parecia assustada.

 

Não havia sido a primeira pessoa a comentar o jeito incomum daquela família, surgindo até rumores de serem assassinos, foragidos, contrabandistas e por aí vai. A mente maquiavélica inventa e a língua maliciosa espalha inverdades assustadoras. Aconteceu que numa noite fria e escura, um vizinho mais bisbilhoteiro resolvera descobrir a razão dos murmúrios noite afora.

 

Havia um basculante no corredor que servia como suspiro para o apartamento do povo bizarro, por ali Zé Durval espiou. O que ele viu o deixou de olhos arregalados para sempre. O infeliz ficou defeituoso das vistas. Pudera! A sua curiosidade mostrou-lhe vultos horrendos, espíritos vampiros maus, que vivem sugando a boa energia de pessoas e lugares. Quando a síndica ligou para o dono do edifício, ele informou que o apartamento 611 estava vazio há mais de vinte anos. Havia uma disputa dos herdeiros aguardando o inventário ficar pronto. Depois desse episódio, houve uma evasão dos moradores. Mudança geral!