A Cura

-Não, eu não posso. Sou cristã, sou católica e a Igreja condena essas coisas.

-O que você está fazendo que é errado ou pecado?

-Eu não posso. Eu quero sair daqui.

-Não adianta você fugir. Está dentro de você. Faz parte de sua vida.

-Não está dentro de mim e eu não quero.

Isadora saiu correndo. Luciana saiu atrás dela.

-Isadora, Isadora, espera.

-Você me traiu. Disse que era um grupo de oração. Aqui é um grupo de ritual espírita.

-Não é grupo de ritual espírita. É um grupo de ritual de limpeza espiritual e energética.

-E não é a mesma coisa?

-Não. Não é. Este grupo é específico. São nove mulheres que sempre fazem o bem.

-Você sabe que eu não acredito nisso e sou católica e temente a Deus.

-Até quando você vai continuar negando a sua espiritualidade e mediunidade? Não vê que está atrasando a sua vida? Você pode fazer bem para as pessoas através do seu dom.

-Eu não quero e não posso.

-Deixe-me lhe explicar. Elas precisam de duas mulheres para completar pois duas tiveram que sair. É uma oportunidade de fazermos o bem para nós e para as pessoas. Nós seremos preparadas. Vê como é grande a sua força? Não é qualquer uma que é aceita.

-Eu vou embora.

-Hoje você está um pouco abalada, mas voltamos a falar nesse assunto. Só faço isso porque sei que você precisa se libertar e cumprir sua missão.

Luciana conseguiu convencer Isadora depois de muita conversa.

Elas começaram a se preparar.

Todas as mulheres ali se vestiam de vermelho e preto.

Um grande lenço vermelho cobria a cabeça, os ombros e ia até a cintura, sendo amarrado ali. Outro lenço preto cobria-lhes o corpo da cintura para baixo, formando um tipo de saia. Acreditam que a cor vermelha repele forças negativas por isso cobrem a cabeça, o peito e as costas indo até a cintura. Acreditam ainda que concede poder, força e segurança a quem a usa. Quanto à cor preta, acreditam que ela é capaz de conceder a cura e levar a morte e o mal para longe.

Acreditam que o número nove, número de integrantes da confraria, significa o ápice da realização espiritual e intelectual, significa elevação da alma e cura.

A confraria recebia as pessoas que precisavam de cura espiritual e sabiam que na esmagadora maioria das vezes com a cura espiritual vinha a cura física.

Os rituais eram feitos com imposição de mãos e com orações.

Isadora começou a sentir uma grande paz pois sabia que estava fazendo, com sua força espiritual, o bem para muitas pessoas e sentia também que sua vida só melhorava.

Ano após ano estava nas reuniões. Saía dali com o sentimento de missão cumprida.

Num domingo Isadora foi chamada para um atendimento. Teve a intuição que aquela seria sua prova de fogo. Uma voz no seu íntimo dizia que ela poderia ser derrotada na missão que a aguardava.

Um arrepio percorreu seu corpo.Um pressentimento ruim acompanhava aquele arrepio.

Acabou de se arrumar e saiu.

Chegou. No local estavam médico, pastor e padre. Tentavam contornar a situação.

Uma garota se debatia e tinha dois homens fortes tentando segurá-la. Ela se levantava e os empurrava com facilidade. Falava sem parar com uma voz estranha e a maioria das palavras eram ininteligíveis, como se estivesse falando em uma língua desconhecida. Seus olhos estavam estranhos e tinham um brilho aterrorizante.

Uma das irmãs da confraria e sua amiga, Luciana, estava lá para juntas tentarem ajudar a garota. Elas se vestiram de vermelho e preto como sempre. O padre e o pastor olharam com desagrado. O médico olhou com incredulidade.

Elas perguntaram como tudo começou. Precisavam entender a situação.

Disseram que a garota estava trabalhando normalmente. Era sempre muito alegre e simpática De repente seu olhar ficou estranho e seu sorriso assustador e então ela começou a falar coisas estranhas e ficou agressiva, surtou de uma hora para outra. Chamaram então o médico. Como ela estivesse muito estranha chamaram também o pastor e o padre. Mas nada resolveu. Ela estava se debatendo há mais de uma hora.

Elas aguardaram. Não queriam afrontar o padre e o pastor, muito menos o médico. Enquanto aguardava, Isadora fazia orações e tentava se revestir de energias positivas. Sabia que iria precisar e nem sabia se seria capaz de enfrentar o obsessor que estava dominando a jovem. Sabia que se tratava de um espírito muito ruim.

Os olhos da garota estavam cada vez mais assustadores e a injeção que o médico aplicou para acalmar a menina não fez nenhum efeito e ele disse que seria capaz de apagar um elefante. Ele não entedia nada.

Água benta e orações do padre não surtiam nenhum efeito. Nem as do pastor.

Sabiam que não podiam esperar muito, mas também não queriam desagradar ninguém.

O padre e o pastor, num gesto de desistência, se afastaram, o médico sentou-se ali próximo como que abrindo caminho para Isadora e Luciana agirem.

Elas se aproximaram e a garota tentou se soltar e atacá-las. Elas cruzaram os braços no peito em posição de defesa. Começaram a orar e repreender o obsessor.

A menina gritava assustadoramente e tentava atacar as irmãs. Elas faziam mais e mais orações e repreendiam o espírito.

Isadora, que era espiritualmente mais forte, começou a imposição de mãos, mas suas energias se esvaiam rapidamente e a jovem continuava a falar numa língua estranha, gargalhar e debochar delas. Ela tentava se manter forte e pedia a Deus que renovasse suas energias.

Isadora tocou a moça e sentiu uma grande energia sair de si. Sentiu que ia desmaiar e orou com mais fervor. Não podia ser vencida por aquele mau espírito.

Algum tempo depois a garota começou a se acalmar e por fim perdeu os sentidos como se dormisse profundamente.

Isadora, totalmente exaurida, desmaiou.

O médico correu para socorrê-la, mas Luciana impediu. Ela fez a imposição de mãos nela que aos poucos recuperou os sentidos, mas estava esgotada. Tentou andar, deu alguns passos trôpegos e se sentou em uma cadeira.

Aos poucos foi se recuperando. Entendeu o arrepio e o mau pressentimento que tivera. Travou uma luta árdua com aquele espírito e sabia que ele poderia tê-la vencido e até dominá-la. Ela dava graças aos céus por ter vencido.

Ela sabia que mais uma vez recebeu forças do alto pra cumprir sua missão.

Depois de recuperada Isadora e Luciana conversaram com a mãe da garota e ela disse que o pai da menina participava de rituais que fazem o mal e toda sorte de trabalhos que prejudicam as pessoas e que ela participava com o pai.

Quando ela acordou disse que não lembrava de nada, só lembrava de uma espécie de médico que esteve o tempo todo com ela, que ele era muito tranquilo, tinha um semblante divino e segurou sua mão o tempo todo.

Isadora e Luciana entenderam que era a figura divina de Jesus que esteve com a jovem

Elas foram embora. Visitaram a garota muitas outras vezes para que ficasse definitivamente livre de maus espíritos e deixasse de frequentar o terreiro com o pai.

Cumpriram mais uma vez sua linda missão. A menina ficou curada e na presença de Deus.

Nádia Gonçalves
Enviado por Nádia Gonçalves em 12/07/2023
Reeditado em 18/07/2023
Código do texto: T7835556
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