Trufa rosa

[Continuação de "Um Volga preto"]

Um GAZ-22 azul e branco da polícia estava parado à margem da estrada vicinal que cruzava a floresta e levava aos campos cultivados que separavam Kalotúr da cidade mais próxima, Töröklas. Dois policiais uniformizados aguardavam do lado de fora do veículo, em expectativa. Finalmente, outra viatura, um GAZ-21, chegou vindo de Kalotúr e o capitão Pataki, que estava no assento do passageiro, desembarcou.

- O que temos, Norbert? - Indagou para um dos patrulheiros.

- Outra vítima do maníaco, capitão - replicou o interpelado. - Um coletor de trufas encontrou o corpo na floresta, não muito longe daqui.

- Como chegou à esta conclusão, Norbert? - Questionou Pataki.

- Mesmo modus operandi, capitão: sinais de violência sexual, enforcamento.

Pataki fez um aceno de cabeça.

- Muito bem; vamos lá conferir.

Adentraram a floresta enevoada até um ponto cerca de cem metros distante da estrada. O corpo de uma mulher, com as roupas parcialmente arrancadas, jazia em meio a uma camada de folhas secas numa clareira. Pataki curvou-se sobre ela.

- Vamos precisar do laudo do legista de Töröklas para confirmar, mas creio que ela está morta a menos de 24 h - declarou ao erguer-se. - Arriscaria dizer que o assassinato ocorreu na tarde ou noite de ontem.

- Fico me perguntando como o assassino a trouxe até aqui - ponderou o outro policial, que até então se mantivera à parte na conversa.

- Desconfio que as vítimas o conheciam - replicou Pataki. - Com um assassino à solta, alguém que ofereça proteção para uma mulher sozinha pode ser o melhor disfarce.

- Alguém de absoluta confiança - prosseguiu o policial.

Pataki o olhou de soslaio.

- Só não vá concluir que o assassino é um de nós, József.

O policial ergueu as mãos num gesto apaziguador.

- Na verdade, estava pensando nesses tipos do Departamento III, capitão. Podem levar qualquer um para averiguação, não é?

Pataki lançou-lhe um olhar aborrecido.

- Melhor não levar esse raciocínio longe demais, József.

Não era segredo que o capitão estivera reunido com dois homens do serviço secreto no fim de semana, embora o teor da conversa permanecesse uma incógnita para todos os demais. Mas havia quase um consenso de que o primeiro assassinato atraíra atenções indesejadas na capital. E agora, com uma segunda vítima...

- Norbert volta comigo - determinou finalmente Pataki. - József, você fica aqui de guarda, até a chegada do legista; não deve demorar, liguei para ele antes de sair da delegacia.

O escolhido não pareceu muito satisfeito com a incumbência, mas não podia se negar a cumprir a ordem.

* * *

De volta à delegacia, Pataki resolveu desabafar algo da sua frustração ligando para Attila Márton, o editor-chefe do "Kalotúr Sztárja".

- Vai ser difícil afirmar que algo não está acontecendo nessa cidade... essa mulher também se parecia com a Dorka Bognár, embora numa versão mais jovem. Já começo a me perguntar se todas as mulheres que tenham alguma semelhança com ela estão ameaçadas.

- Você sugere que devemos reforçar essa suspeita na próxima reportagem? - Indagou Márton.

- Veja o que o seu jornalista pode fazer - redarguiu cansado Pataki. - Chega de mortes na minha jurisdição.

Ao ser inteirado dos últimos acontecimentos por telefone, Viktor Fábián prometeu que escreveria algo impactante. Após desligar, virou-se para a esposa e anunciou:

- Creio que está na hora de voltar a falar com minha mãe, Lilla.

Afinal, se nada fosse feito, Martina Fábián poderia tornar-se uma das próximas vítimas do assassino.

- [Continua em "A zeladora fiel"]

- [12-07-2023]