No silêncio da noite

[Continuação de "Cidade do pecado"]

O silêncio da madrugada foi quebrado pelo barulho de vidro quebrado: alguma coisa pesada havia sido atirada contra a janela do quarto onde Viktor e Lilla Fábián dormiam. O jornalista ergueu-se de um pulo, atirando as cobertas sobre a atônita esposa.

- Não se levante! - Comandou ele, um dedo sobre os lábios.

Lilla não ousou se mexer. O marido acendeu a luz e olhou para o piso sob a janela: uma pedra com um pedaço de papel amarrado nela fora a responsável pelo ruído e pelo estrago. Fábián não fez menção de examinar o objeto e saiu correndo do quarto, descendo pelas escadas rumo à porta principal da residência. Quando a abriu e olhou para os dois lados da rua, viu-a completamente deserta, como seria de esperar àquela hora num dia de semana. Engoliu um palavrão e voltou para o andar superior, onde a esposa o aguardava sentada na cama, imóvel.

- O que foi... isso? - Indagou ela.

- Uma tentativa de intimidação - replicou Fábián, abaixando-se e pegando a pedra. Desamarrou o papel e verificou que continha apenas uma frase, escrita em letra de forma: "SE CONTINUAR, VAI SE ARREPENDER". Colocou o bilhete sobre a mesinha de cabeceira, a pedra em cima como um peso de papel.

- Alguém quer que eu interrompa o meu trabalho da cobertura dos assassinatos - esclareceu à esposa. - Pelo visto, estou chegando perto da verdade.

- Você não vai parar, não é? - Indagou Lilla de modo retórico, enquanto abraçava os próprios joelhos.

- Desmascarar o maníaco é a única forma de fazer com que as mortes parem - assegurou.

- Mas esse é o trabalho da polícia - argumentou Lilla.

- São um bando de incompetentes, a começar pelo capitão Pataki - resmungou Fábián. - De qualquer forma, este incidente me dá o pretexto ideal para solicitar proteção armada para minha mãe.

Lilla franziu a testa.

- O que sua mãe, que vive reclusa na mansão dos Rosinger, tem a ver com isso? - Inquiriu.

- Talvez mais do que eu gostaria de admitir - replicou Fábián de forma críptica.

* * *

- Uma ameaça? - O capitão Pataki examinou a pedra e o bilhete que Fábián fora lhe mostrar pela manhã, na delegacia de polícia.

- Devo estar incomodando bastante - afirmou o jornalista, braços cruzados.

- Mas você acredita mesmo que isso esteja vinculado com a série de reportagens que fez sobre o maníaco da floresta? O que acha que o assassino teria a ganhar indo até a sua casa apenas para jogar uma pedra? Por que não tomar logo uma ação mais violenta?

Fábián mordeu o lábio inferior, enquanto desviava o olhar do policial.

- Não estou trabalhando em mais nenhum outro caso capaz de merecer uma ação tão violenta, capitão Pataki. Parece que está minimizando o risco que eu e minha esposa corremos.

O capitão ergueu as mãos num gesto apaziguador.

- Calma, Fábián. Não estou colocando a sua palavra em dúvida. Só estou achando essa ação estranha. Deseja que coloque um agente na porta da sua casa à noite?

Fábián fez um gesto negativo.

- Na verdade, não, capitão. Mas agradeceria se pelas próximas semanas disponibilizasse um policial para fazer a ronda noturna pelo terreno da mansão Rosinger.

- A sua mãe não é a zeladora lá? - Questionou Pataki. - O que ela tem a ver com essa confusão?

- O assassino pode não tentar nada sério contra mim aqui, na cidade, mas pode me atingir indiretamente, através da minha mãe. Ela mora sozinha lá nos Rosinger.

Pataki o encarou pensativo, mão no queixo.

- A mansão dos Rosinger ocupa um terreno bem grande... mas vou ver o que posso fazer, Fábián - ponderou. - Afinal, de certa forma fui eu quem o colocou nesta situação, quando pedi que escrevesse as matérias sobre o maníaco.

- Não se sinta culpado, capitão - redarguiu Fábián. - Sou de maior e sabia onde estava me metendo.

- Agradeço pelo seu espírito público - cumprimentou-o Pataki.

- [Continua em "Noctâmbulo"]

- [15-07-2023]