Ecos na Casa Branca

Naquela noite serena, envolta em silêncio e segredos, a casa branca erguia-se imponente, como um enigma a ser decifrado. Seus contornos pálidos se mesclavam com a penumbra, criando uma aura de mistério que parecia ter existido desde sempre.

Dentro da casa, as sombras dançavam como folhas ao vento, deslizando pelas paredes caiadas. Uma única lâmpada lançava um fio tênue de luz sobre o cenário, o suficiente para desvendar as formas sem revelar os segredos. E lá, no centro da sala, encontrava-se Isabela.

Seus olhos escuros pareciam capturar os segredos da casa, como se fossem espelhos da própria estrutura. Isabela carregava a história da casa em seus gestos delicados, como se fosse um anjo guardião, condenado a vagar por entre os cômodos vazios. Seus dedos traçavam o contorno de uma fotografia antiga, um retrato desbotado do passado.

A casa branca abrigava não apenas móveis e paredes, mas memórias vivas, ecoando risadas e sussurros que haviam se dissipado no ar, mas ainda flutuavam ali. Isabela não era a única ocupante daquele lugar; ela compartilhava a casa com vozes sussurrantes, com os ecos de amores e dores que haviam habitado cada recanto.

Naquela noite, isabela sentia uma conexão mais profunda com a casa do que nunca. Ela podia sentir as vibrações dos que vieram antes, os traços das histórias que foram escritas ali. Passou horas explorando os quartos, cada um com sua própria narrativa, com sua própria vida passada.

Enquanto a lua pairava no céu, isabela encontrou um diário empoeirado escondido no sótão. As palavras manuscritas nas páginas amareladas eram como uma janela para a alma de alguém que já havia habitado aquele espaço. À medida que mergulhava na leitura, as fronteiras entre passado e presente pareciam desvanecer.

No entanto, quanto mais se aprofundava no diário, algo estranho acontecia. Uma sensação arrepiante percorreu sua espinha e a sala parecia encher-se de presenças invisíveis. As sombras que dançavam ganharam formas vagas, silhuetas que a observavam em silêncio.

O vento sussurrava segredos ininteligíveis, e o cheiro do passado invadiu o ar. Isabela sentiu o coração bater descompassado, enquanto os espectros misteriosos se aproximavam. Eram figuras etéreas, vestígios do passado, assombrando a casa branca como guardiões esquecidos do tempo.

Os espectros pareciam dançar em torno de Isabela, cada um contando sua própria história por gestos silenciosos. E então, quando a tensão atingiu o ápice, o diário escorregou de suas mãos e caiu no chão. As sombras pareciam se intensificar, seus contornos oscilando como se estivessem à beira de se materializar.

Mas, de repente, tudo parou. As sombras recuaram, e o ar pareceu se acalmar. Isabela estava sozinha novamente, apenas a lâmpada emitindo sua luz suave. Ela olhou em volta, aturdida, perguntando-se se tudo havia sido um sonho ou uma alucinação.

Com o coração ainda acelerado, isabela pegou o diário do chão e o abriu. As palavras finais do autor, escritas em uma caligrafia trêmula, revelaram o desfecho surpreendente: "Somos os que habitam as paredes, os que sussurram nas sombras. Não temas, Isabela, pois somos parte da casa e agora, também, parte de você."

O diário escapou de suas mãos novamente, desta vez flutuando no ar antes de desaparecer. Isabela sentiu uma calma inexplicável, uma sensação de pertencimento à casa branca e a todos os seus mistérios. E naquela noite, enquanto o sol nascente tingia o céu com tons dourados, isabela soube que ela própria havia se tornado um dos espectros misteriosos, um elo entre o passado e o presente da casa branca.

José Freire Pontes
Enviado por José Freire Pontes em 22/08/2023
Reeditado em 22/08/2023
Código do texto: T7867659
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