O lar das fadas (miniconto).

O som grave da flauta de madeira despertou as que dormiam em folhas escuras, no meio da floresta densa. O espetáculo das luzes, vagaluminhas coloridas tomando o ar misterioso e acendendo um quase lar para a vista. Quase um oásis. Um pontinho específico no meio de milhares de troncos negros, um lar, de fato, o único ambiente que se acendia, em formato de círculo. Passavam o dia inteiro dormindo, as fadas, e apenas ao toque é que se via seu brilhar, que intensificava com o luzir branco vindo do alto. De lá, porém, não saíam, nem cogitação alguma parecia surgir na mente delas. É como se fosse a existência o limite entre o dormir, o despertar e o lugar. O ciclo. Cada uma delas em harmonia de movimento, a lentidão e o bruxuleio, as cores que perigavam o avistamento. O fenômeno: não morriam — mas viviam? Dizem que conversam entre si, apesar de mais parecer que sua comunicação vir da beleza da dança no ar, sem palavra alguma, apenas um balé cuja coreografia faz-se do mais conjunto individualismo. Retornavam ao sono quando a luz chegava ao seu ápice, e então esperavam o chamado novamente.

— Filha! Escute, filha! Grite por mim, não se mova, eu irei até você!

Alice não escutava, apesar do grande volume com que as palavras eram proferidas e o tom, encantou-se ao ver como a mata reluzia uma luz forte. A escuridão inteira tomada por um único ponto, que parecia mais um espelho. Quando se aproximou, porém, seu fascínio fora elevado ao zênite do deleite: as fadas. As luzinhas roxas, amarelas, verdes, rosas, azuis... Todas elas fluindo de um núcleo tão branco que parecia cegar os pensamentos. Alice, mecanicamente, foi até elas. Ficou bem no meio do círculo. As fadas continuaram sua dança, na mesma lentidão, mas pareciam ter se virado para a menina, todas em grande êxtase. E o brilho aumentava de tamanha forma que Alice dificilmente conseguiria nomear a cor que via.

Os gritos foram abafados por um canto tão bonito, agudo e melódico, que a garota apenas fechou os olhos, tomada por uma visão esbranquecida, quase dormindo. Quando voltou a si, ouviu apenas um som muito aprazível: a flauta chamava, e Alice despertava para uma dança.

Rodrigo Hontojita
Enviado por Rodrigo Hontojita em 09/11/2023
Código do texto: T7928567
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