Sexo, amor e dinheiro

A festa de aniversário dela seria no sábado e muito pouco faltava para o grande dia. Já na sexta à tarde, saiu com a mãe em busca do bolo já encomendado há semanas. As duas desceram do automóvel, Karina que viera no banco do carona ao lado do pai não escondia seu entusiasmo.

- Vamos, mamãe. Que demora!

Sonia descera por trás e, já acostumada com a ansiedade da adolescente apenas sorriu. Ela também era só felicidade.

- Pego vocês em uma hora. E não me façam esperar, tenho compromisso em seguida - disse o pai ao dar novo movimento ao carro e desaparecer dali. Já diante do bolo cor de rosa, arredondado e enfeitado com morangos e muito glacê, Sonia não conteve a exclamação que veio junta com palavras de elogio pela excelência trabalho.

Tudo pronto chega o dia da festa. Pouco a pouco todos os espaços disponíveis nas calçadas, de ambos os lados da rua, como dentro da propriedade da aniversariante estavam tomados por automóveis. Karina estava deslumbrantemente vestida, com trajes próprios de quem completa os seus quinze anos de idade. Usava rosa no vestido, no chapéu e seu sorriso, expondo uma dentição muito branca e saudável cativava a todos que a cumprimentavam.

Ela ficou na entrada, ao lado do portão, recepcionando seus convidados. Tinha a grande vantagem de habitar uma mansão por fazer parte de uma família de pais abastados e muito conhecidos na sociedade.

Em pouco mais de trinta minutos via-se uma montoeira de gente e ouvia-se um burburinho incessante de vozes. No grande salão toda aquela gente bonita e bem arrumada. A um canto, a comprida mesa expunha uma variedade de doces, salgados e garçons indo e vindo com suas bandejas recheadas, hora de petiscos que despertavam a gula, hora de copos e taças com bebidas a escolher.

Arnaldo foi um dos últimos a chegar. O Corola preto teve que deixar estacionado na rua ao lado por motivos óbvios e uma caminhada de uns cinco minutos foi o bastante para fazê-lo mostrar-se a Karina. A impaciência da menina levou-a algumas vezes até o portão na expectativa de ver se o noivo havia chegado. Quando este se aproximou ela desabafou seu estado de nervos.

- Poxa! Você tinha que ser um dos primeiros a estar na minha casa. Afinal, é ou não especial o dia de hoje?

- Desculpa, meu amor. Tive problemas com o carro, estou vindo direto da oficina.

Não era verdade e o motivo real do atraso de Arnaldo vamos ficar conhecendo daqui a pouco. Beijaram-se nos lábios, um beijo atrasado e recebido com certa frieza por parte da noiva. Isto era um problema. Karina amava Arnaldo e não desejava seguir a vontade do pai de se casar somente ao completar a maioridade. Arnaldo, por sua vez não queria forçar a situação para não contrariar o dr. Flávio. Afinal, ter como noiva e caidinha por ele a filha de um magnata cheio da grana era como acertar no primeiro prêmio da loteria.

Se ele a amava não cabe aqui um julgamento deste que se propõe a somente narrar essa história, mas se levarmos em conta o seu comportamento fora do olhar da jovem noiva veremos que esse amor, se é que havia não era amor verdadeiro. Arnaldo tinha uma amante. Ainda bem para ele que se satisfazia sexualmente, pois se dependesse de Karina ficaria apenas na vontade. Embora o amasse, amava, em proporção muito maior a mãe que não deixava de orientá-la quanto à questão ‘sexo’.

- Se deitar com ele – ela dizia - será o fim do casamento e, pode ter certeza, do noivado também. – E por temer isso Karina se esforçava e até ali continuava virgem e esperançosa. Como não era boba, sabia das intenções financeiras de Arnaldo, mas tinha uma certeza: deixá-lo-ia tão maluco por ela que chegaria com facilidade ao casamento.

Entraram. Cumprimentaram alguns convidados das suas relações e dirigiram-se ao salão. As horas correram como sempre acontece e a bebida também, com fartura, livre e disponível. Arnaldo se excedeu e, no meio da madrugada, com 40% dos convidados ainda presentes começou a dar vexames e a falar coisas que não devia. Dr. Flávio que não bebia, prestava atenção a cada palavra e a cada frase.

- Então é isso – disse o advogado quando já não suportava mais o comportamento do jovem. – Não é a felicidade da minha filha o que quer, mas o meu dinheiro. Saia já da minha casa, seu beberrão traidor.

- Como assim, traidor? – disse Arnaldo, intrigado.

- Olhe para isso – disse dr. Flávio, tirando do bolso um papel e mostrando-o ao rapaz.

Vamos explicar o que aconteceu.

- Que perfume é esse? Perguntou Karina ao beijá-lo ao lado da casa quando conseguiram alguns minutos a sós.

- É o meu perfume, ora.

-Este não é o teu perfume, você sabe que não. – Enquanto diz essas palavras, Karina arranca, com incrível rapidez, do bolso do noivo, uma nota comercial.

- Dá pra cá isso, anda. – Mas já era tarde. Ela correu, deixando-o ali plantado. Não passava por sua cabeça que pudesse ser algo que o comprometesse, mas pela reação de espanto que o rapaz demonstrou ela desconfiou e por isso saiu correndo.

Cinco minutos depois vamos encontrar a aniversariante aos prantos diante da mãe que lia, pasmada, a notinha fiscal com as despesas de um motel com a data daquele dia. Isto foi o suficiente para por fim a um relacionamento interesseiro, uma festança frustrada e, quem sabe, dali para frente uma nova fase de vida para aquela menina, linda, inexperiente, mas ainda com muito chão e, com certeza muitos momentos de alegria e felicidade. Logo, logo estaria dando risadas daquela fase complicada de sua vida.

Professor Edgard Santos
Enviado por Professor Edgard Santos em 02/12/2023
Reeditado em 02/12/2023
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