MISTÉRIO, TRAIÇÕES E LOUCURAS - Cap. 3

O velório do Juarez parou a pequena cidade de Nova Itália do Sul. Afinal, o falecido era gerente do único banco local e conhecia todo mundo. A comoção era geral. Lourdes, depois de passar chorando a noite inteira até ficar com o rosto inchado, deixou-se ficar, inerte, amparada pelos amigos, quase sem falar nada. A irmã, Lorena, estava presente, acompanhada de Valentina, única sobrinha de Lourdes.

Angelina circulava em volta do caixão tentando ver se a piroca do Juarez continuava em pé. A vizinha que também presenciara a cena no dia anterior lhe dera vários cutucões para Angelina tomar jeito. Era preciso respeitar o morto e a viúva. Mesmo assim, Angelina não conseguia evitar voltar os olhos para o caixão tentando enxergar alguma coisa no meio daquele monte de flores. Pobre Juarez. Até que era bem galã. Uma pena.

Já estava combinado que Valentina ficaria um tempo fazendo companhia para a tia. A casa era grande e Lourdes não conseguia se imaginar vivendo em um lugar com tantas lembranças, completamente sozinha.

― Pode deixar, tia – prometeu Valentina que andava pela casa dos 20 anos. ― Nós vamos bombar.

― Valen, pelo amor de Deus – Lorena deu um cutucão na filha. ― Sua tia mal enviuvou.

― Ah, tá! E ela vai ficar chorando pelo resto da vida? De jeito nenhum.

Naquele momento Lourdes começou a chorar de novo, momento em que um grupo de amigas se aproximou para acolhê-la em um abraço. Para um velório, até que as coisas iam normais. Discursos de despedida, choro, homenagens, um grupo de homens discutindo futebol em um canto da sala mortuária.

Então algo aconteceu. Faltava meia hora para o enterro propriamente dito acontecer, quando uma mulher alta, aparentando uns 35 anos, apareceu. Bonita, vestida de preto e com os cabelos escuros caindo pelas costas, ela caminhou até o caixão, firme. Ante os olhares de todos que estavam ali, acariciou o rosto do Juarez.

Valentina olhou da mulher para a tia, da tia para a mulher e fez a pergunta que estava entalada na garganta de todos os presentes.

― Mas quem é esta daí?

Lourdes prontamente se pôs em pé. O rosto era uma máscara de dor. Sem olhar para ninguém, se aproximou da mulher que continuava com a mão no rosto do morto, sem dar bola para ninguém.

― Quem você pensa que é para ficar passando a mão no meu marido?

A voz aguda de Lourdes ecoou por todo o salão. Calmamente, a mulher voltou seus olhos para Lourdes e anunciou:

― Meu nome é Gina. E Juarez era meu marido também.