A JINGUBA
É insuportável, sinto a minha catinga a entupir o meu nariz. Sem sabonete e sabão para banhar, só vejo omo e uso. Logo, faço necessidade maior, mas as fezes são um ferro prestes a sucumbir à pia. “Sai pá, sai... Possas, bem rija!”
— Ó Caquece, sempre a cagar, também quero entrar. Ontem comeste o quê?
— O... Samakaka, fez funge com molho de tomate e frango frito, mas funge com bué de bolas, mãe.
— Então, ando a vos falar para me esperar, bem-feito.
Sem papel-higiénico, mas o papel do caderno também ajuda a limpar a boca suja. Na hora de dar água na pia, só já a primeira, nada, o lodo não queria ir. Dei a segunda, nada, não foi, mas quando irritou-se-me, de tanto ela pedir água, meti várias vezes até o balde desnutrir e, quando observei, a pia estava empanturrada e, felizmente, o lodo se foi.
A seguir, pauso na cadeira, a assistir numa guimbola a um boneco de Naruto. O quintal nada fala, o meu irmão mais velho foi à Ilha, enquanto eu lutava com as vozes roncas da barriga.
Como a minha mãe foi comprar feijão, vasculho por comida, pois estava mesmo fobado, que nem um leão esfomeado. A panela deu bandeira, o fogão sem doação da botija, a arca de Noé também não come caixa de frango há semanas, sobre a mesa só havia um prato cheio de ossos de frango, que os esmaguei ontem com o Samakaka.
Por sorte, um saco deu-me olhada e, curiosamente, aproximo-me dele. Procuro por um copo, acho, encho-o com arroz, água e açúcar, mexo com a colher, provo a doçura e não mais esperei amolecer, quer dizer, como dizem, “Apressado come cru”. O azar é que a minha velha chega e abafa a refeição.
— Caquece, o que fazes aí, com a boca cheia?
Estou no quarto, sozinho, apanhado como um gatuno e, a tentar baralhá-la, invento:
— Nada, mamã. Estou a comer ginguba.
Mães, como parecem videntes, ela olha no chão, pensa, vê arroz espalhado sob a cozinha, parecendo que os ratos bisbilhotaram o saco. Mas, para ter a certeza, com aquela orelha idêntica a um elefante, ouve ao barulho forte do arroz crocante, na boca sem travão. “Cra, cro, cra, cro!”
— Ahm, mentiroso, estás a comer arroz branco.
— Somos pobres, tenho muita fome.
— Só porque somos pobres? Burro, vais apanhar maculo, espera já!
— Não vou, mamã.
— Se duvidas, hoje mesmo, você vai ter que acabar o saco de arroz, senão, vais apanhar com o maçarico de funge. Anda!
Daí, com medo, engulo a ginguba barulhenta e ouço o que a minha mãe mandou fazer. Mil vezes comer a apanhar da mão, maçarico dói.