Papai Noel existe e salva vidas / com áudio

"Esse conto está firmemente ancorado na realidade."

"Minha amiga Maria Quitéria pediu a colaboração de outros poetas e, como um pedido dela é uma ordem, cá estou cumprindo, modestamente, essa ordem...rsr"

Sombra e sua filha mais velha, que chamarei de Sombrinha, com apenas dez anos, adentravam o Parque do Ibirapuera, na tarde de uma sexta-feira, poucos dias antes do natal do ano de 1984.

Sombra iria dar uma corrida na pista de cooper, próxima à Avenida Quarto Centenário, mas antes levaria sua filha até o Play Ground.

Conversavam sobre o natal que passariam, junto com toda a família, num sítio que haviam alugado na cidade de Santa Izabel, no interior paulista. Enquanto caminhavam, avistaram um grupo de pessoas sentadas debaixo de uma árvore e, apenas uma mulher negra -aparentando mais ou menos uns trinta anos de idade- permanecia de pé.

O grupo olhava para Sombra, como se ele fosse uma espécie de assombração e, quando ele e sua filha se aproximaram, aquela que estava de pé disse para os outros:

- "Olha aí o Papai Noel!" Todos olharam e riram...

Novamente, quando ele passava bem em frente ao grupo, ela repetiu, apontando para Sombra:

-"Olha aí o Papai Noel!" Todos, que já estavam olhando, riram novamente...

E -pela terceira vez- quando já estavam se afastando do grupo, ela voltou a falar, apontando:

-"Olha aí o Papai Noel!" Nesse momento o grupo todo já estava quase gargalhando...

Sombrinha virou-se para o seu pai, assustada, e perguntou:

- Pai, você conhece eles?

- Claro que não, nunca os vi mais gordos, respondeu.

- Mas porque te chamaram de Papai Noel? perguntou.

- Não faço a menor idéia, mas é bem possível que me tenham

achado parecido com algum ator que fez o papel de "Papai Noel",

em algum filme...

Véspera de natal, as mulheres cuidavam dos quitutes enquanto os homens jogavam uma pelada num belo campinho de futebol que existia na propriedade. O cunhado de Sombra -naquele momento- que chamarei de Junior, pulou para cabecear uma bola, mas acabou cortando a cabeça no travessão do gol, ficando, por causa disso, impossibilitado de se fantasiar de Papai Noel. Sombra foi imediatamente convocado para o "cargo", o qual aceitou de bom grado, pois queria se divertir com a molecada.

Perfeitamente caracterizado como Papai Noel, ele entrou numa sala imensa que havia na casa do sítio, carregando com dificuldade um saco enorme de presentes, pois o bom velhinho já estava avançado em sua idade.

Como na sala só havia arandelas nas paredes, no meio -onde ele se sentou- a penumbra predominava, impedindo-o de ler os nomes que estavam escritos nos presentes. Sua cunhada, à época, arrumou uma vela, se colocando por trás do Papai Noel, na tentativa de iluminar os presentes que eram tirados do saco. Mas, numa dessas aproximações, a chama pegou o cabelo de Papai Noel, que era feito de algodão.

Fogo no algodão é quase tão devastador quanto fogo na gasolina, mas, Sombra não sabia disso ainda e, estando todo paramentado como estava, era-lhe impossível avaliar o tamanho do incêndio que se anunciava, pelos clarões que percebia em sua retaguarda, enquanto sua cunhada tentava, sem sucesso, apagá-lo.

Sombra não querendo de maneira nenhuma estragar a brincadeira das crianças, esperava ansioso que sua cunhada e os outros que vieram em seu socorro, conseguissem debelar aquele fogo...

Foi quando -de repente- um flash explodiu em sua mente, trazendo a imagem nítida daquela mulher apontando-o e dizendo: - Olha aí o Papai Noel!

Nesse momento ele entendeu, claramente, o recado que tinham lhe dado, que era:

-Livre-se dessa roupa, imediatamente...

Essa foi a única vez em sua vida que Sombra se fantasiou de Papai Noel, e, poderia ter morrido ou, na melhor das hipóteses, ter ficado com graves queimaduras em todo seu corpo, principalmente no rosto.

Para Sombra, aquelas pessoas no Parque do Ibirapuera, foram mensageiras de um recado enviado pelo próprio Papai Noel, e, talvez, nem soubessem do que se tratava.

Por isso ele vive dizendo para quem quiser ouvir e acreditar:

-Papai Noel existe e salva vidas.

Aimberê Engel Macedo
Enviado por Aimberê Engel Macedo em 03/12/2008
Reeditado em 16/12/2008
Código do texto: T1316672
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