O NATAL DOS MEUS SONHOS

Estive imaginando o que seria desse mundo se finalmente o gênero humano inteiro compreendesse o verdadeiro significado do Natal. Se desde as camadas mais abastadas até as classes desprovidas uma luz de entendimento irradiasse sobre as almas a ponto de estas encontrarem o elo comum de elucidação acerca desse momento único de congraçamento e percepção interior.

Isso me tocou tão profundamente que ao longo de um dia inteiro não pude me apartar de suas considerações e recostado a uma confortável cadeira, nas elevadas horas noturnas, contemplando o espetáculo das estrelas, simplesmente adormeci, passando a ver o que meus olhos lúcidos não me permitiam enxergar até então...

“No alto de uma gélida montanha brincava o simpático garoto do rosto sujo e do olhar distante. Há tempos ele percebe que nessa época do ano algo de grandioso impacto ocorre lá em baixo. Luzes se multiplicam, canções harmoniosas ecoam pelos ares e um evidente clima festivo pode ser notado. O que poderia ser aquilo?

Movido de indomável curiosidade e sem a anuência dos seus, o garoto curioso desceu pelas íngremes encostas daquela montanha e por sete dias e sete noites enfrentou os perigos do terrível desfiladeiro para finalmente descobrir o que de fato ocorria naquele preciso momento do ano com os habitantes da parte baixa da montanha.

Lá chegando se deparou com gente frenética em meio a um clima de festa e troca de presentes, os quais lhe deram pão e água, passando a lhe explicar:

- A razão de tudo isso é porque estamos no Natal.

- Mas o que é Natal? – Questionou o jovem curioso

- O quê!! Você não sabe o que é Natal? Isso é algo tão disseminado que me surpreende sua ignorância e fico aqui sem palavras para esclarecer – Disse seu interlocutor, o qual ainda afirmou:

- Façamos o seguinte, lhe darei uma Bíblia. Ela fala de Jesus. Ele é a teórica razão de ser do Natal, pois se comemora seu nascimento. Leia o Novo Testamento e você saberá de seus ensinos e exemplos, o que, por fim, esclarece os fundamentos do Natal.

Agradecido pelo gesto cortês de seu novo amigo e preocupado com o que seus pais já pensavam de sua longa ausência, o garoto tomou a Bíblia para si e regressou viagem rumo ao alto da montanha. Ainda curioso não conseguia esperar chegar em casa para dar início à leitura e por isso simultaneamente enquanto subia as encostas, ao longo dos sete dias, ele leu e releu o Novo Testamento duas vezes e ficou absolutamente impressionado com tudo que lera, a ponto de uma vez chegando em casa passar a dar início imediato a essa mensagem para todos os moradores de sua vila, que, tal como ele anteriormente, nada sabiam do Natal.

Findo o sacrifício da viagem de regresso, o menino esqueceu-se da própria exaustão e foi correndo de encontro aos seus pais contar a razão de seu desaparecimento e a revolucionária novidade que trazia consigo.

Seus pais desesperados com sua ausência de 14 dias estavam desolados e o davam como morto. Quando o viram correram em sua direção transbordando de felicidade e ouviram dos lábios de seu rebento a seguinte frase:

- Pai e Mãe, estive ausente porque precisava entender o Natal e agora que o conheço, quero que saibam que o Natal me trouxe de volta, a fim de que vocês primeiramente e depois todos os moradores desse lugar saibam a seu respeito.

Curiosos, os pais do garoto passaram então a ouvir atentamente tudo que o filho aprendera, não pelo exemplo e conduta dos de baixo (pois não houvera tempo para isso), mas pela leitura das Sagradas Escrituras, cada detalhe concernente ao Natal, o que causou uma grande transformação no seio daquela família.

O jovem e ativo garoto passou a adquirir maior consciência de seu papel enquanto filho e da honra devida que deveria conceder aos pais. O Pai abandonou os vícios, passou a proteger sua esposa com gestos de carinho e fiel amor, sendo que esta por sua vez tornou-se irrepreensível em todo o seu proceder e virtuosa diante do conceito coletivo.

O mesmo pai do garoto levou o exemplar da Bíblia que este trouxera lá de baixo para o gráfico do vilarejo. Pediu a ele que reproduzisse vários outros daquele precioso livro e os distribuísse em meio à população. Concomitantemente, a família redimida deu-se à missão de explicar a todos o que era o Natal e seu valor para uma sociedade, esteja ela onde estiver. A junção desses fatores gerou uma onda de modificação social, sem precedentes e que se propagou em cadeia...

As famílias se uniram em torno de seu vínculo e o amor passou a ser o âmago de sua existência, o perdão se alastrou em meio aos que mutuamente se ofendiam, credores anistiavam seus devedores, salteadores desistiam da prática delituosa, corruptos aderiram ao rol dos honestos, laços autênticos de fraternidade tornaram-se uma febril epidemia de benevolência generalizada, os de maior posse dividiam com os mais pobres seus proventos e assim erradicou-se a exclusão naquele lugar, o daninho sentimento da inveja foi exterminado, o cooperativismo tornou-se lei na alma de todos. A solidariedade para com o próximo se desenvolveu despretensiosa de algo em troca, a ânsia pelo consumo deu lugar à gratidão pelo que se tem, presentes sentimentais se tornaram mais valiosos que bens terrenos, a arte passou a ser o deleite dos sensíveis e não um instrumento de lucro, a usura evaporou-se do comércio, os litígios morreram nas praias da misericórdia, o ódio fugiu sob as ameaças guerreiras da paz, a malícia foi substituída pela intenção construtiva, a ambição material foi suplantada pela riqueza celestial, que é inacessível aos braços corruptíveis.

Celas foram abertas, pois ninguém mais desejava delinquir e nem necessitava fazer uso de tal prática em nome de suas carências básicas de sobrevivência.

Tribunais foram desfeitos, posto que a causa da justiça se elucidava diante do mútuo sentimento que arbitrava em prol de todas as partes envolvidas.

O forte não mais oprimia o fraco, pois ambos se tornaram uma única horda.

As igrejas ignoravam a prata e sobejavam de uma autêntica fé, que tornara cada lar numa embaixada celestial.

E o mais notável: por decisão de todos os moradores daquela cidade e com o aval de seu governo foi decretada uma Lei de caráter irrevogável: DE AGORA EM DIANTE SERÁ NATAL TODOS OS DIAS DO ANO NESSE LUGAR!

Feliz com todos os resultados obtidos, o garoto herói volta seu olhar para seus pais e lhes diz:

- Pai e Mãe, preciso descer de novo. O povo lá de baixo me emprestou essa Bíblia para que eu entendesse o verdadeiro sentido do Natal. Acho que é justo agora que eu regresse e transmita a eles tudo que aprendi...”

Foi nesse exato momento que fui despertado por um forte e impetuoso raio solar que me atingiu em cheio o rosto. Já era manhã e eu despertei desse inesquecível sonho.

E agora só consigo pensar numa coisa:

Que desça entre nós Aquele Menino trazido por uma Estrela. E que Ele nos ensine o verdadeiro sentido do Natal.

Reinaldo Ribeiro
Enviado por Reinaldo Ribeiro em 18/12/2009
Código do texto: T1984052
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