REIS MAGOS E A HISTÓRIA QUE NÃO FOI CONTADA

Reedição

Talvez por não significar nada para a mensagem do Evangelho, esta história jamais foi narrada. Aliás, até seus personagens, como se sabe, apenas um evangelista (Mateus) menciona.

Naquele tempo a Pérsia era governada por um ótimo rei conhecido pelo nome de Belchior. Como todos em sua pátria, ele cultuava vários deuses, entretanto teve uma visão de um mensageiro de Javé, um deus por ele ignorado. O mensageiro chegou descendo do céu e o saudando: “Salve ó rei dos persas!” “Quem sois? – perguntou perplexo o monarca. “Sou Gabriel, servo de Javé, Deus do povo judeu, mas também o verdadeiro Deus de todos os povos” – respondeu. “Desconheço...” –Afirmou o soberano, porém quis saber: “O que desejas?” O mensageiro, então, explicou: “O meu Deus te conhece, embora tu o não conheças. Contudo, não temas. Ele te conhece e te admira como governas o teu reino e como amas o teu povo. Acontece que está para nascer na Judéia aquele que será chamado Rei dos reis, pois governará não só aquela nação, mas o mundo. E Javé deseja que o nobre monarca lá possa estar para dar o seu testemunho depois para a sua região a chegada deste Rei universal. Terás de viajar ainda esta semana, afinal a Judéia fica bem distante”- concluiu. O rei, atônito, não sabia o que dizer. Ademais aquela visão era por fim extraordinária e o pegou de surpresa. Nunca tivera ele visto algo semelhante. Pensou em consultar aos seus sacerdotes e aos seus conselheiros que ali, no momento, lamentavelmente não se encontravam e só então dar a sua resposta, porém resolveu em alguns minutos, mudar de idéia; foi resoluto: “Diga lá ao seu deus que aceito o seu convite e ainda esta semana me comprometo a ir à Judéia” - Assim encerrou o diálogo entre ele e o mensageiro Gabriel.

O soberano, com muita emoção, relatou o fato à sua corte e avisou para todos da sua decisão em viajar. Aceitar o convite de um deus estranho parecia loucura. Os sacerdotes tentaram-lhe dissuadir dessa idéia, todavia não conseguiram. O monarca explicava: “Não tenho dúvidas do que vi e ouvi. Nunca tive antes contato com emissário de deus algum e também quero conhecer esse chamado ‘rei dos reis’. Estou curioso”.

Naquela mesma semana o rei Belchior com a sua guarda pessoal partiu em direção à Judéia, um reino que nunca tivera ido e sabia ser muito longe. O mensageiro de Deus o havia instruído para viajar somente à noite, seguindo em direção à estrela mais brilhante no oriente. E assim ele fez.

Depois de um certo tempo, quando atravessava o deserto existente no caminho, encontrou com outros monarcas que procediam de outras regiões ainda mais distantes, e ao se cumprimentarem ficou sabendo que eles estavam igualmente indo para a Judéia e com a mesma finalidade: reverenciar aquele que se tornaria no Rei dos reis.

Narraram eles ainda ao Belchior que tiveram idêntica visão e que ali estavam guiados pela mesma estrela. Dito isso, espalhou-se um clima de euforia entre os três. Que coisa fantástica era aquilo, eles afirmavam.

Realmente aquele fato era impressionante! Agora ali estavam três majestades de regiões distintas: Belchior, rei da Pérsia, Gaspar, rei da Índia e Baltazar, rei da Arábia. E juntos prosseguiram a viagem. Viajaram várias semanas, alguns meses até chegarem ao reino da Judéia. Entraram na capital, em Jerusalém e foram diretos ao palácio real achando que ali encontrariam a criança esperada. Saíram, no entanto, de lá frustrados, pois ninguém naquele local sabia de nada. Até o rei dos judeus, Herodes, estranhou e ficou intrigado com aquela história trazida por três reis de regiões diversas.

Por um certo momento, Belchior, Gaspar e Baltazar chegaram a pensar que o mensageiro de Javé havia lhes passado uma peça. Porém ao anoitecer tiveram novamente contato com ele que lhes disse: “Procuraram a criança em lugar errado, deixando de seguir a estrela só porque chegaram à cidade. Continuem ainda em direção a estrela e logo chegarão ao seu destino”. E assim, montados em seus camelos, mais uma vez obedeceram à determinação do mensageiro divino. Após poucas horas de viagem chegaram a um estábulo onde avistaram vários pastores e um casal com uma criança deitada numa manjedoura. Belchior gritou: “Vejam! Será que não é esta a criança que estamos a buscar?” Baltazar e Gaspar discordaram, dizendo: “Não, não pode ser. Estamos à procura do futuro rei dos judeus, não de qualquer criança, ainda mais numa espelunca dessas”. E sugeriram: “Vamos ainda em frente”. E tentaram fazer isso, mas perceberam que quando se afastavam dali, a estrela sumia, não mais conseguiam enxergar a sua luz. Resolveram, então, aproximarem da manjedoura onde estava a criança. Nesse momento disse Baltazar: “Não posso aceitar que um rei nasça e viva num lugar tão humilde como este”. Todavia ao aproximarem, sentiram algo diferente. A unção de Javé estava forte naquele lugar. Não mais tiveram dúvida. Os três reis começaram a chorar. José, pai da criança, observando os trajes daqueles estranhos reconheceu tratar-se de nobres e curioso perguntou: “Perdoe-me, mas quem sois vós?” Os soberanos através dos seus intérpretes, explicaram: “Somos reis: um persa, outro árabe e outro hindu. Sabemos que esta criança será futuramente o rei de nós todos e estamos aqui para o reverenciar”. “E como souberam do seu nascimento?” – queria ainda saber José. “Um jovem desceu do céu trazendo a notícia e um convite do seu deus. Isso aconteceu identicamente com nós três” – responderam eles.

Logo em seguida se ajoelharam junto à manjedoura e adoraram à criança chamada Jesus. Presentearam-na com mirra, incenso e ouro. Maria, mãe do menino, sorria de felicidade com tudo aquilo. Ela entendia bem o que representavam aquelas visitas, pois sabia que o seu filho vinha para dirigir um reino sem fronteiras. Após adorar ao menino, Belchior voltou a chorar. Chamou os seus colegas e fora do estábulo confidenciou: “Não me conformo com este lugar horrendo. Isso aqui é um curral, um lugar para bicho! Ainda que permaneçam aqui por pouco tempo, é triste”. “Sim, – respondeu Baltazar – mas o que podemos fazer? Foi o deus deles que assim quis”. “Se o deus deles é agora o nosso amigo – falou Belchior – acho que não nos negará um pedido. Peçamos agora, todos unidos, para que Javé melhore, pelo menos, um pouco este lugar. Ele é todo-poderoso e cheio de amor e com certeza nos atenderá”.

Os três reis apontaram para o estábulo dizendo: “Transforma Javé este lugar em um abrigo mais agradável”. E imediatamente ao redor daquele local surgiu um belíssimo jardim e dentro do estábulo ficou tudo muito limpo e organizado. Os pastores que presenciaram aquilo, não entendendo a linguagem dos reis começaram a chamá-los de magos, acreditando se tratar de uma magia e não, de fato, de um milagre de Deus, já que aqueles homens eram gentios.

Belchior, antes de regressar ao seu reino, afirmou: “Este Javé é realmente maravilhoso e a partir de agora será o meu único Deus”. Baltazar e Gaspar completaram: “Já é nosso também”.

E aí, muito felizes, tomaram o rumo das suas pátrias.

Mas foi ali na Judéia que ficaram conhecidos como reis magos e agora você já sabe por que motivo.