CONTO DO QUADRO DE NATAL

Estava tranquilamente sentado defronte a televisão, assistia meu noticiário favorito, onde de “vez em sempre” surgiam informações da guerra nos países do Oriente Médio e a guerrilha urbana aqui no Brasil, quando me disse a Sílvia:

-Ely vou mudar esse canal, só tem notícia de violência.

Mudou de imediato, quando encontrou um leilão de quadros, que foram sendo mostrados um a um, sendo que parei também para prestar atenção.

Quadro após quadro fomos observando todos com muita atenção, quando foi apresentada uma tela de Natal, esta com um trenó de Papai Noel, puxado pelas renas que depois soube chamarem-se: Rodolfo, Corredora, Dançarina, Empinadora, Raposa, Cometa, Cupido, Trovão e Relâmpago, portanto nove renas.

O leilão prosseguiu e colocaram um preço no quadro, sendo os lances enviados por telefone, quando comecei a interessar-me pelo quadro, verificando que a Silvia tinha também demonstrado desejo na aquisição da tela, resolvi dar lances para presenteá-la.

Esperava os lances e sorrateiramente oferecia os valores para a arrematação, sem que a Silvia notasse, pois seria presente de Natal.

Assim fiz, quando cheguei ao máximo que ofereceria pelo quadro, pensei comigo, vai haver lance maior, enquanto esperava resolvi contar as renas, só havia oito, qual estaria faltando?

O leiloeiro começou:

-Dou-lhe uma, dou-lhe duas e dou-lhe três, vendido ao sr........

Foi àquela surpresa, a Silvia não acreditou no que estava ouvindo, havia acabado de ganhar o quadro de Natal, com o trenó e as renas.

E agora, nove ou oito renas? Quantas tinham no quadro?

Fui pesquisar e já estava ansioso para que o quadro chegasse, quantas renas havia no quadro? Se oito. Qual estaria faltando?

A família estaria reunida para o Natal e comecei as apostas o quadro tinha oito ou nove renas, perguntava eu para a Silvia e os dois filhos, que responderam:

-Pai, tanto faz com oito ou nove renas, contanto que o trenó voe, para entregar os presentes. Disse o Ely Junior já debochando da minha dúvida cruel.

-Então você aposta em quantas renas? Indaguei.

-Eu acho que tem nove, você não deve ter enxergado direito, mas se forem oito, ta faltando é a relâmpago porque sumiu muito rápido.

Era uma opinião, perguntei a filha Cristina ela disse que tava faltando é a trovão porque existe a dúvida se fora vista a relâmpago.

A Silvia opinou pela Raposa, pois a que ela conhecia, era a cadelinha, que também ouvia a conversa e era “expert” em fugas, se encontrasse um portão aberto.

Marquei as opiniões e levei para o escritório de advocacia em que exercia a profissão, lá chegando encontrei o Gigi, que não gostava do apelido porque chamava-se Gildésio e simplesmente Gil era o preferido dele, mas como ele detestava eu insistia na brincadeira. E fui logo falando-lhe:

-Dr. Gigi diz uma coisa, quantas renas têm o trenó do Papai Noel?

-Dr. Gordon –também eu não gostava – eu tenho mais o que fazer para ficar contando quantas renas tem o trenó do Papai Noel, que por sinal ainda não vi no dia de Natal.

Expliquei para ele que tinha comprado um quadro e toda a história ocorrida. Então ele completou:

-Se entendi, você comprou o quadro num leilão não contou quantas renas tinha e agora quer saber qual está faltando, é isso?

-Perfeitamente, viu como você não é muito “burro”.

-Olha! Não começa ofendendo.

-Tá bom! Vou pedir desculpas ao burro, mas deixando de lado os elogios, que tanto você os merece, qual das renas falta no quadro?

-Quais restam para escolha?

- Sobraram a Rodolfo, Corredora, Dançarina, Empinadora, Cometa, Cupido, portanto seis das nove renas.

Vou opinar pela Cupido, pois deve ter perdido seu amor e desapareceu.

-Ok, vou anotar se você for o vencedor vou guardar um pedaço maior do peru de Natal para você.

Não sei por que, mas ele também não gostou da ideia, só podia estar de mau humor.

Larguei o cara pra lá e fui procurar o Nando, que gerenciava os trabalhos do escritório e lhe pedi uma opinião, informando as renas que ainda restavam e disse-me ele:

-Ely, vou opinar pela Cometa.

-Mas o que levou você a tão interessante escolha?

-Simples, vi na semana passada que um cometa ia passar pela órbita terrestre e com certeza a rena iria acompanhar o colega.

Disse-me ainda que ligasse a televisão no canal da Justiça, para assistir o julgamento dos participantes do “mensalão”, para apostar quais dos culpados serão inocentados.

O Nando estava um pouco indignado, com o desenrolar do julgamento dos “supostos acusados” de utilizarem dinheiro púbico para campanhas eleitorais.

À noite liguei para o meu irmão Tomás e fiz a pergunta, para que apostasse, qual a rena fora omitida no quadro, dizendo-me o seguinte:

-Ely não sou especialista em animais de chifres como o pessoal aí de Rochedo, mas vou dar uma opinião.

-Bom! Obrigado pela referência elogiosa, para os habitantes da nossa terrinha, mas eu tenho certeza que todas as renas daqui foram morar em outra cidade. Você não viu nenhuma aí não?

O clima ia esquentar, resolvi insistir para ele me dizer entre as renas que sobraram, qual estaria faltando no quadro de Natal.

-Ely, eu acho que faltou foi a dançarina, porque a gíria por aí é na hora do assalto, dizer: “perdeu”, “dançou” passa logo a carteira.

-E o que tem haver com a Dançarina?

-Você não vê, o quadro vem de Ribeira não é?

-Sim.

-Pois é do jeito que tem assalto naquela área, a dançarina “dançou mesmo”.

É, tinha lógica a rena dançou e no que foi correr do assaltante se perdeu.

-É, tem mesmo lógica.

Deixei a conversa com meu irmão e juntei a família para informar que faltavam três renas para que pudesse completar toda a aposta, quais sejam:

-Rodolfo, Corredora e Empinadora.

O tio Raul tinha de ser consultado e opinou pela rena de nome Rodolfo, pois tinha um colega de escola com mesmo nome, que vivia correndo para pegar o ônibus e não perder a aula, o que deve ter ocorrido com a rena, que chegou atrasada para acompanhar o Papai Noel.

Corredora e Empinadora ninguém havia votado, será que não seria entre essas a que havia fugido do quadro de Natal, mas o motivo da fuga qual seria?

Liguei para minha irmã Selma, para que também opinasse sobre a rena faltante, que de pronto informou:

-Ely, eu sou de opinião que falta a Corredora, vez que o trenó seguia muito devagar e resolveu ela então, correr mais que as outras, perdendo-se do grupo.

-Bom! Tem lógica e aproveita para dizer ao cunhado Jorge, que sobrou a Empinadora pra ele, vez que estamos num País em que impera a liberdade de opinião e a democracia.

Passados os dias e o quadro não havia sido entregue, até que chegou o dia de Natal e convidei os nove apostadores, para a ceia, apenas preocupado, pois a tela não chegara.

Foi chegando os convidados, Gigi, Nando, o irmão Tomás que veio lá do interior, minha irmã Selma e o cunhado Jorge. O tio Raul justificou a ausência, sentida é claro por todos nós.

Estávamos à mesa quando tocou a campainha e por incrível que pareça, era o correio com a entrega do quadro.

Todos se encontravam ansiosos, para elucidar o mistério.

Fui abrindo devagarzinho o pacote para deixar mais curiosidade nos presentes.

Escutavam-se diversas opiniões, a cadelinha Raposa latia, torcendo para sua xará ser a rena faltante.

Eu abrindo o pacote retirei o quadro e observei que no canto direito havia uma inscrição; “TRENÓ DO PAPAI NOEL-1930”, estava definida a ausência da rena Rodolfo(1) que surgiu em 1939.

O tio Raul foi o que acertou na escolha e tínhamos de guardar um pedaço do peru para o vencedor.

Encerro o presente conto, com uma farta ceia de Natal.

(1) A rena Rudolph surgiu em 1939, quando a cadeia de lojas Montgomery Ward company, com sede em Chicago, pediu ao seu empregado Robert L. May para criar uma história de Natal para ser oferecida aos seus clientes.

EMERSON BERNARDO PEREIRA, advogado, residente em Barra Mansa, Estado do Rio de Janeiro, formado em Direito em 1986, foi professor de eletrônica, estagiário de Direito na Defensoria Pública da Comarca, advogado do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Barra Mansa, Consultor Jurídico da Câmara Municipal de Quatis e Procurador Geral do Legislativo de Porto Real. Membro da Sociedade de Advogados Hércules Anton, curso de Pós Graduação em Direito Público, tendo participado ativamente da Lei Orgânica do Município de Barra Mansa em 1988, atual membro da Comissão de Cultura da OAB, sócio da ACAT – Associação Carioca dos Advogados Trabalhistas, com militância na Justiça do Trabalho há cerca de 27 anos, Coodenador Jurídico do SAAE/Barra Mansa e escritor autor do livro “VIDA EM IDAS E VINDAS” da editora LivroPronto –ISBN 978-85-7869-282 – São Paulo, 2011, participante da SELETA CULTURAL –Bienal Internacional do livro – São Paulo, Brasil, 2012 editora LP-Books- ISBN 978-85-7869-363-3.

Emerson Bernardo Pereira
Enviado por Emerson Bernardo Pereira em 18/04/2014
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