Beleza eterna

Desamparado, caminho sozinho pela madrugada. Na avenida, entre lojas, portas e grades fechadas, escuto o uivo distante de um cão agoniado que lamentava a morte do seu dono.

A rua um deserto de concreto, estava mal iluminada, sem carros e sem nenhuma viva alma. Afogado em meus pensamentos, prosseguia com os meus passos.

E então ela se relevou, vinda de um sonho insano, estava parada como se tivesse me esperando aquele tempo todo na escuridão. Compartilhamos naquele momento nossa solidão.

Estávamos separados apenas por uma divisória de vidro, tão frágil e instável como a vida. Eu era a pedra e ela a vitrine, ou o inverso ?

Em um instante ela me chamou a atenção! Era alta, magra, vestia roupa e

sapatos pretos, tinha os olhos e o cabelo escuro como a noite. Era tão

pálida que parecia que saiu de uma balada gótica, estilo Madame Satã.

Demonstrava um ar macabro e misterioso, sua presença contraditória era um misto de arrogância e apatia.

Estática ela me fitava, não desviava o olhar em nenhum momento. Sua beleza eterna implorava por vida e imitando o Doutor Frankenstein, com um pouco de tinta eu a fiz nascer. Do pó ao pó, das cinzas a escrita.