Fui Pedir um Sonho ao Jardim dos Mortos

Fui pedir um sonho ao jardim dos mortos.

Quis pedi-lo, aos vivos. Disseram-me que não.

Os mortos não sabem, lá onde é que estão,

Que neles se enfeitam os meus braços tortos.

Os mortos dormiam... Passei-lhes ao lado.

Arranquei-lhes tudo, tudo quanto pude;

Páginas intactas — um livro fechado

Em cada ataúde.

Ai as pedras raras! As pedras preciosas!

Relâmpagos verdes por baixo do mar!

A sombra, o perfume dos cravos, das rosas

Que os dedos, já hirtos, teimavam guardar!

Minha alma é um cadáver pálido, desfeito.

As suas ossadas

Quem sabe onde estão?

Trago as mãos cruzadas,

Pesam-me no peito.

Quem sabe se a lama onde hoje me deito

Dará flor aos vivos que dizem que não?

Pedro Homem de Mello

Claudia Amaral e Pedro Homem de Mello
Enviado por Claudia Amaral em 24/03/2012
Código do texto: T3572605
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